quarta-feira, 11 de abril de 2007

INTERRUPTORES



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À porta do café, quando nos despedíamos, o amigo mais velho reuniu o círculo, e com o olho brilhante perguntou-nos se tínhamos lido determinada notícia. Ele tem uma capacidade admirável para se indignar. Este “fait divers”, aparentemente na ordem natural das coisas, surge aos seus olhos como uma peça significativa no processo político. Contudo, eu não posso seguir o seu raciocínio. Não vejo como esta história possa explicar o que quer que seja. Mas ele acredita que nada disto acontece por acaso e que se trata duma deliberada estratégia. Adivinhá-la em notícias como esta e nos fragmentos de informação é um jogo que lhe dá a vantagem do ponto de vista sobre a nossa inércia e confusão.

É verdade que a esquerda tem uma opinião do capitalismo, mas é abstracta. E no fundo é um conformismo a sua ideia de que tudo é demasiado evidente. Os factos deduzem-se da essência política sem nenhum esforço da inteligência. Por isso se vê tanta gente viver como peixe na água no meio da poluição moral do pensamento e da política  e acabar por ser assimilada no seu papel de oposição escatológica, mas inerte.

Este destino é próprio de toda a religião da forma, porém, há neste caso, além disso, a ideia extremamente nociva da imanência científica que desobriga de pensar e de agir verdadeiramente. O método do nosso veterano é muito mais instrutivo, e se ele não tem o melhor ponto de partida acaba sempre por enriquecer a ideologia. Porque é ainda a essência maligna que orienta este trabalho de puzzle.

Eis um pensamento que pode ir longe e arrastar pessoas pela sua aparente certeza. Se juntarmos a isso uma natural eloquência compreender-se-á porque preciso de me retirar no mais vivo do drama e julgar a paixão estimável, mas só fúria e razão encadeada. Compreender as causas puramente humanas e fisiológicas é abrir o mundo ao nosso entendimento e perceber a verdadeira lei. Mas um homem de ideias apaixonadas deixa um sulco nesta superfície social agitada e incoerente. É um ponto de referência para quem não sabe agir, e eu vejo entusiasmo nestes impacientes companheiros, sempre demasiado prontos para simplificar o pobre texto do orador.

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