segunda-feira, 9 de abril de 2007

A PALHA PELO OIRO


Heráclito de Éfeso ( Johannes Moreelse)


"Os homens enganam-se, em relação ao conhecimento, da mesma maneira que Homero, o qual foi, no entanto, o mais sábio dos Helenos. Crianças, ocupadas em se livrarem dos seus parasitas, enganaram-no dizendo-lhe: "Aquilo que nós vemos e apanhamos, deixamos; tudo o que não vemos nem apanhamos, levamos.""

Heráclito ("Fragmento nº 56")


A reputação de obscuridade que se atribui a Heráclito está aqui bem ilustrada.

Mas a verdade é que a própria simplicidade parece às vezes complicada. E eu arrisco uma interpretação literal da frase com que as "crianças" (os homens) terão iludido Homero, segundo o grande efesiano.

Decorre da sua doutrina que o que "vemos e apanhamos" é a mesma coisa do que o que "não vemos nem apanhamos". Nós apenas imaginamos que são diferentes, porque ficamos pela superfície das coisas.

Logo, o que as "crianças" dizem não tem nada de absurdo, embora possam realmente não o compreender, ocupadas que estão, além do mais, a catar os seus piolhos.

Homero terá sido iludido então por uma aparente falta de lógica.

"Ouvem sem compreender e são semelhantes aos surdos. O provérbio aplica-se a eles: presentes, estão ausentes." ("Fragmento nº 34")

1 comentários:

Anónimo disse...

Não sei se a doutrina não decorre mais da constatação de que a dicotomia superfície/profundidade não faz sentido: tudo está à vista.