Scorcese dá-nos em "Bringing out the dead" ("Por um fio"), de 1999, um filme apocalíptico, em que a cidade inumana é uma força hostil contra a qual se debate uma multidão de criaturas alucinadas.
As urgências de um grande hospital são a fronteira entre os vivos e os mortos, que alguns não param de atravessar, como aquele homem a quem fizeram num só dia 14 reanimações, para "preparar" a família.
Vemos esse inferno através do olhar de um paramédico (Nicolas Cage) que na sua ambulância parece sempre à beira do desastre, pela falta de sono e o desequilíbrio mental.
Tudo lhe corre mal e já nem se lembra da última vida que salvou, apesar de tanto sacrifício pessoal. Como não fazemos nada sem uma contrapartida simbólica, ele acaba por considerar que o seu trabalho, aparentemente inútil, é o de testemunhar o sofrimento e a humilhação das pessoas, muito mais do que resgatar vidas, que de qualquer modo se precipitam para a morte ("We are all dying", diz a Patrice Arquette).
E talvez só assim essa agonia ganhe um sentido.
A consciência de um homem é então toda a consciência.
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