quarta-feira, 25 de abril de 2007

DE PILOTOS E GOVERNANTES


1698-Academia Francesa


"O que acontece é que os esforços se concentravam primeiro no problema do modo como se poderiam formar os governantes e os guias do povo, e só em segundo lugar nos meios pelos quais estes homens dirigentes poderiam formar o conjunto do povo.

É este desvio do ponto de enfoque, que no fundo parte já dos sofistas, que distingue o novo século do anterior. E marca também o início de uma época histórica. É precisamente este novo objectivo que faz surgir as academias e as escolas superiores."

"Paidéia" (Werner Jaeger)

Devido à perda de influência, no século IV (a.C.), de forças como "a religião, os usos sociais e a "música", da qual na Grécia sempre fez parte a poesia, a grande massa furtava-se cada vez mais à acção modeladora do espírito e, em vez de beber nas fontes mais puras, buscava a sua expansão em substitutos de baixa qualidade." (ibidem)

A essa degradação do gosto colectivo terá sido sensível o criador da Academia, já de si naturalmente adversário da democracia, e para quem a questão de saber quem devia governar era a mais importante da política.

A comparação ( abusiva, segundo Karl Popper ) do governo com a função do piloto no alto mar obriga ao reconhecimento de que é o conhecedor da "arte" quem deve governar.

Mas não sei se no tempo de Platão não era praticável e compatível com alguma espécie de controle popular um governo de homens excepcionais. Em todo o caso, isso não seria, nessa altura, pior do que uma democracia integral (sem a moderação de um "conselho", por exemplo).

Essa situação é, porém, impossível nos nossos dias, dado o enorme poder do Estado que abriu a possibilidade de um mal ilimitado e o facto da sociedade se ter tornado tão complexa que nenhum saber privilegiado é já possível, de modo que, como diz Popper, só nos resta garantir que os governados possam expulsar um mau governo, sem recurso à violência.

Para terminar, uma outra questão muito interessante. O carácter elitista que presidiu à criação do ensino superior, como se vê no texto de Jaeger, nunca foi desmentido nos tempos subsequentes, até à altura em que a democratização levou ao absurdo esse espírito de formação de elites dirigentes.

Parece, pois, que o primeiro passo para sair da crise da universidade será acabar com a ideia de um qualquer direito ao poder através do conhecimento.

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