sexta-feira, 27 de abril de 2007

O AMIGO DO POVO


Jean-Paul Marat (1743/1793)


O homem que no "Amigo do Povo" denunciava à justiça popular "todos os nomes que lhe ditavam", com moradas e tudo, para que "fossem degolados sem terem de procurar" e que confessou ter, "na sua precipitação", confundido uma vez La Salle com o marquês de Sade, esse homem, Marat, era capaz de dizer, segundo Michelet, estas palavras espantosas sobre si próprio: "Creio ter esgotado todas as combinações do espírito humano sobre a moral, a filosofia e a política."

Michelet diz também que a sua jovem cabeça fora esquentada pela educação dos pais que pretenderam, a todo o custo, fazer dele um grande homem, um Jean-Jacques. E o historiador remata dizendo que, em vez disso, fizeram dele o "macaco de Rousseau".

Ora, quando um louco como este, emergindo do sapal da revolução, se torna um ídolo popular, o símbolo da própria justiça, uma justiça encovada e de aspecto cadaveroso, é difícil não pensar num povo arrebatado por uma qualquer pulsão de morte.

Foi um desses terríveis momentos da história em que toda a sociedade se tornou uma sociedade policial, e cada patriota um delator.

Ainda não existia, como hoje, o órgão que contivesse e chamasse a si essa função.

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