Prometeu
"Em nenhum momento, as forças da cultura e da recepção humanistas impediram o triunfo da barbárie. Continuaram a fazer-se sob o Reich investigações de primeira ordem, em filologia, em história antiga e medieval. Como disse Gadamer, numa forma verdadeiramente assustadora, bastava saber conduzir-se manierlich ( ter boas maneiras, mostrar-se respeitoso das convenções) em relação ao regime nazi para poder seguir uma brilhante carreira de docente e continuar a estudar os clássicos. A única precaução indispensável: não ter cometido a indiscrição de ser judeu!"
"Les logocrates" (George Steiner)
Esta capacidade de conviver com o mal absoluto, sem se sentir tocado no mais profundo do ser, esclarece rudemente, quanto a mim, o papel da razão, em cada homem, como a continuação do instinto por outros meios.
Justificando o injustificável (se o homem e não a vida for a referência), fornecendo toda a espécie de argumentos apaziguadores da consciência e enobrecendo actos e omissões, apenas motivados pelo interesse ou o egoísmo, até ao ponto em que não mais se distinguirá da loucura ( que também se poderia definir pela ausência de medida comum entre os homens).
Porque há um momento em que este oportunismo da razão, como segundo instinto, a desqualifica como um abuso da ferramenta prometeica.
0 comentários:
Enviar um comentário