quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Sem título

 

Matosinhos

 

A MENTIRA CERTIFICADA

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" Dominada pelos modelos marxistas e dos 'Annales', durante muito tempo a historiografia portuguesa remeteu a biografia - e a história política - para um pequeno nicho."

("Salazar", Filipe Ribeiro de Meneses)

Quando é a Razão que 'escreve' a história, o individual e o particular não explicam nada. Por muito que se preze a 'acção' do herói, ele não faz mais do que está escrito. Foi contra essa ideia de fatalismo (a coberto da vontade de inverter a 'situação de facto') que, no filme de Lean, Lawrence 'prova' que 'nada está escrito. Na verdade, tratava-se de uma demonstração temporária, até o mesmo homem que o inglês salvara de morrer no deserto cair, finalmente, sob o cutelo da letra...

Mas o prazer de penetrar a ambiguidade do acontecimento histórico através de uma 'chave' (neste caso, idealista, porque é isso, no fundo, o materialismo dialéctico que Hegel teria apresentado 'de cabeça para baixo') acaba rapidamente na repetição 'ad infinitum' e na irrelevância histórica da pura abstracção.

Regressámos, pois, à história 'ideológica', em última análise, a do poder e a dos vencedores, também a dos vivos, em relação a todas as vítimas. Com isto, nada ficou mais claro (não há ciência histórica), mas deixou-se de propagar uma mentira 'certificada'.

 

 

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Sem título

(José Ames)

 

O SANGUE PALAVROSO

 

"Num perigoso empreendimento desportivo, num exercício arriscado onde os gestos atingem uma perfeição quase abstracta sob o sopro da morte, todo o dualismo entre mim e o corpo tem de desaparecer. E no impasse da dor física, não experimenta o doente a simplicidade indivisível do seu ser quando se volta no leito para encontrar a posição da paz?"

"Quelques réflexions sur la philosophie de l'hitlerisme" (Emmanuel Levinas)

 

Será para muitos quase provocatório procurar uma filosofia, por muito elementar que seja, na doutrina do líder nazi. No momento em que se acaba de prestar mais uma homenagem às vítimas, em Auschwitz, parece que o dever dos que reconhecem que nenhuma reparação jamais lhes poderá ser feita, porque as nossas leis não foram pensadas para o monstruoso, seria o de se remeterem ao silêncio.

É verdade que a poesia é ainda possível, contra a predição de Paul Celan. E que a filosofia o é também, sendo cada vez mais necessária.

Levinas, nestas reflexões, faz a história dessa dualidade filosófica entre o corpo e o espírito que, tendo começado na Grécia Antiga, com o Judaísmo e o Cristianismo se tornou parte essencial da nossa civilização. O marxismo terá posto em causa, pela primeira vez, essa dualidade, 'amarrando' o espírito às 'condições de existência'. Mas o materialismo não conservou a sua 'pureza' inspirada na Física: "Os escritores franceses do século XVIII, precursores da ideologia democrática e da Declaração dos direitos do homem, confessaram, apesar do seu materialismo, o sentimento de uma razão que exorcisava a matéria física, psicológica e social. A luz da razão é suficiente para expulsar as sombras do irracional. Que fica então do materialismo quando a matéria é toda penetrada pela razão?" (ibidem)

A epígrafe deste texto sobre a indissociabilidade do corpo e do espírito, com os exemplos do desporto de risco ou da doença, corresponderia, portanto, a uma ideia moderna em que a ideologia biológica é determinante. Mas, bem vistas as coisas, é uma ideia anterior à própria filosofia. O século XX provou que podemos cair da civilização em qualquer momento. E essa não é uma singularidade germânica, está bom de ver...

 


 

 

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Sem título

 

Campanhã

 

QUE A FORÇA ESTEJA CONTIGO!

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"Desde Marx sabemos que a força propulsionadora que mergulha a modernidade na aparente progressiva historicidade é baseada na aliança entre capital e ciência. Ao mesmo tempo somos forçados a distinguir mais acutilantemente entre a continuação ('Fortgang') e o progresso ('Fortschritt') a que chamamos...mal."

"Crítica da Razão Cínica" (Peter Sloterdijk)

O antigo império chinês fornece-nos um exemplo da 'continuação' que, pela sua natureza, não seria "um fenómeno de energia, como uma posição numa polaridade natural", como diz Sloterdijk (porque "o Diabo não só é um evolucionista, como é também um nominalista.").

É pois o movimento (o "progresso") que levanta a questão da natureza dessa força divergente e do seu sentido. Mas é verdade que a 'continuidade' pode significar um mal entranhado. "A Revolução na continuidade" já foi um moto conotado com o mal do imobilismo político. E a partir dessa 'diabolização', a situação tornou-se 'polar', disponível para o jogo político ou para o fenómeno 'energético'.

Não sabemos se a força de que aqui se fala, representada pela ciência e pela tecnologia, podia ser tão 'eficazmente' explorada fora da aliança com o capitalismo. Dizer que não o poderia ter sido nas condições do Império do Meio, não parece falho de senso.

Mas o ponto é que parece não estar no nosso espírito, nem nas nossas mãos, dominar e definir eticamente um fenómeno que se nos apresenta como uma necessidade tão exterior como a Natureza na filosofia antiga. Nem sequer podemos conceber o que nos acontece com a distância da astronomia...

 

 

 

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

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(José Ames)

 

AS MARAVILHAS DA TÉCNICA



"Modern Times"


"Nem é preciso dizer, de resto, que os técnicos ignoram os fundamentos teóricos dos conhecimentos que utilizam. Os sábios, pelo seu lado, não só permanecem estranhos aos problemas técnicos, como se encontram ainda privados dessa visão de conjunto que é a própria essência da cultura teórica."

(Simone Weil)

A caricatura extrema desta divergência entre a técnica e a cultura teórica, é o almoço-minuto do operário, nos "Tempos Modernos", de Chaplin, graças a uma máquina que é o último grito da técnica e que evita os movimentos 'supérfluos' na alimentação. Um exemplo mais próximo é o martelo pneumático em que o trabalhador se tem de apoiar, servindo os seus órgãos internos de amortecedor.

Entretanto, nos lugares mais civilizados (o que, neste mundo 'global', exclui os países pobres que, em muitos casos, não têm outro remédio senão utilizar a técnica agora 'desonrada' nos países ricos), apesar da especialização crescente, a 'visão do conjunto' de que pode emergir a coordenação e a integração do processo técnico é hoje, cada vez mais assegurada pela computação e pela 'rede', a última prótese que replica o cérebro humano.

Simone, que escreveu nos anos trinta do século passado, não chegou a conhecer essa 'evicção' do humano pelo inevitável efeito da complexidade.

Mas já é assim que pensamos (ou nos deixamos pensar), sempre que nos esforçamos por compreender o Cosmos...

 

 

 

domingo, 25 de janeiro de 2015

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Amboise

 

AS NOSSAS ILUSÕES

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"Poupemo-nos as ilusões daqueles que, tendo lutado por Liberdade, Igualdade, Fraternidade, acabaram um belo dia por obter, como diz Marx, Infantaria, Cavalaria, Artilharia."
(Simone Weil)

 

Os revolucionários da Comuna de Paris talvez não soubessem 'medir as forças'. A sensação do fim de um mundo, a enorme esperança anunciada pelos novos profetas, nada disso se podia contar como 'força no terreno'. No cemitério do Montparnasse, o 'Muro dos Federados', é a homenagem possível, com o respectivo aviso dos poderes instituídos: ao sonho responderá sempre a tríade militar, ou o que, hoje, faz a vez dela.

Mas podemos, realmente, poupar-nos as ilusões? Outras, claro, e sempre as mesmas. Quando, na Grécia Antiga, se culpavam os deuses por um fatal desenlace, estes devolviam todas as culpas aos mortais. Muitas histórias mostram-nos que o Olimpo estava longe de ser desapaixonado. Os 'erros' dessa corte acima das nuvens justificavam perfeitamente os humanos. Era um mundo sem culpa, como se sabe. Se Ajax perde a razão e ceifa a torto e a direito entre o rebanho dos gregos, tomando-o pelo exército inimigo, é porque Atena toldou o seu juízo.

Os deuses e os heróis da mitologia simplificavam muito a nossa compreensão do mundo. No nosso tempo, porém, já não basta culpar-nos a nós mesmos. As grandes abstracções endossaram a culpa judaico-cristã. A filosofia alemã ofereceu-nos outro tipo de causalidade, que é a História. A História com as suas leis a que não poderíamos fugir. Outras vezes, diz-se que a História nos julgará.

Mas já não estamos aí tampouco. A própria ilusão às vezes é encarada como um direito. Como algo que se compra e que se vende.

 

 

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Sem título

 

(José Ames)

 

CAUTÉRIOS

Franklin Roosevelt


"(...) era tempo de o país se tornar bastante radical pelo menos durante uma geração."


(Franklin Roosevelt, citado por Martin Gilbert)


Esta declaração estava à altura das circunstâncias (a Grande Depressão do final da década de 1920). Não foi proferida por um radical, nem por um político imaturo. Frisando que, nem por se ter de adoptar, temporariamente, uma política que forçava os cânones do 'american way of life', a liberdade individual, tal como a entendia a maioria da nação, a tradição democrática estava em causa. Como disse na altura, "A história mostra-nos que onde isso (a radicalização) acontece de vez em quando, as nações salvam-se da revolução."

Por detrás deste radicalismo, não está, como se compreende, nenhuma ideia de 'parto histórico', mas uma analogia, podemos dizer, milenária, com o que se passa no corpo doente. O sofrimento imposto pelo médico é muitas vezes o único caminho para a cura. Roosevelt, ele próprio um grande enfermo, conhecia o perigo de uma eternização do 'sacrifício' ou do radicalismo que se auto-alimenta. Mas também conhecia a nação americana.

Mais tarde, no final dos anos 40 até meados da década seguinte, outra infecção, esta de carácter vincadamente retrógrado, pôs a democracia em perigo. O Macartismo deixou marcas profundas e mostrou que a democracia não se defende apenas com boas instituições e uma cultura solidamente estabelecida.

O que se tem passado no nosso país é esclarecedor do efeito devastador de um radicalismo apoiado por uma conjuntura de interesses, no fundo anti-democráticos, em que os doutrinários mais ingénuos fazem a triste figura de quererem ser 'mais papistas do que o papa.'


 

 

 

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

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Alcácer do Sal

 

MISANTROPIA

Benjamin Constant

 

"É preciso estudar as misérias dos homens, mas contar entre estas misérias as ideias que eles se fazem dos meios para as combater."

(Benjamin Constant)


É Camus que cita este pensamento. Camus, homem sem Deus, homem de Deus. Pois como falar das 'misérias' da condição (é isso, não é?), sem falar das 'grandezas'?

Por outro lado, essas misérias combatem-se, mas na ilusão, e será por isso que se recusa a grandeza a esse combate. Um exemplo do bardo inglês: Lear é tolo quando despreza Cordélia e faz fé na justiça das outras filhas, Regan e Goneril. A miséria que lhe sucede parece uma sentença do Céu, mas ele é grande nessa miséria. Moral da história: a ilusão não é o fim da conversa.

A ilusão é-nos tão essencial que não aprenderíamos nada sem passar por ela. Nessa passagem, descobrimos o sentido do combate de que fala Benjamin Constant e o 'resultado' surge como irrelevante.


 

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

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(José Ames)

 

ENIGMA

 


Quando Alan Turing e a sua equipa (no filme "The Imitation Game" de Morten Tyldum), depois de aplicar à sua máquina Christopher o filtro necessário, conseguem 'quebrar' o código nazi Enigma, compreendem, ao mesmo tempo, que não podem usar essa informação, por muitas vidas que estivessem em causa. E a razão é que os Alemães de imediato perceberiam que o código tinha sido quebrado, o que os levaria a modificar o sistema. Para ser eficaz, a desencriptação só podia ser utilizada no meio de tais circunstâncias e coincidências que não levassem o inimigo a concluir que o Enigma fora decifrado.

A preciosa informação obtida pelos Aliados, graças a Turing, só podia ser sustentada pela contra-informação (ainda que o fosse sob a forma da ocultação) dirigida ao governo nazi que levou este a crer todo o tempo na segurança do seu código.

Como outro dr. Mabuse (a personagem de Norbert Jacques e Fritz Lang) que, escondendo ao doente a cura do seu mal, colaborasse na auto-ilusão, para mais depressa o levar à morte. Tudo isto é admissível como forma de ganhar a guerra. No país do grande hipnotizador, a hipnose do seu estado-maior era mais do que merecida.

 

 

 

 

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

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Lisboa

 

A IDADE MÉDIA DOS OUTROS

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É sabido que uma pessoa doente ou com um temperamento difícil, no seio de uma família, condiciona todas as conversas do grupo. Alguns membros da família podem ser avessos a tudo o que 'cheire' a política ou à mais leve e benevolente crítica da religião. E não se fala em corda, em casa do enforcado. Queiramos ou não, a conversa deixa de ser 'livre' e cada um dos outros se impõe uma espécie de censura. Como dizia Alain, o convívio num salão aristocrático era regulado pela etiqueta, com a promessa mais do que certa de um aborrecimento geral, para não ferir 'susceptibilidades'. E citava Stendhal que, referindo-se ao carácter de Mathilde de La Môle, no "Vermelho e o Negro", dizia que "elle s'ennuyait en espoir".

O que se passa na família ou no salão (e há todas as espécies de 'salões') talvez possa ser útil para compreender o contexto 'global'. E por que é que as caricaturas de Maomé, por exemplo, no mundo único da comunicação instantânea, podem passar de um assunto que só diz respeito a uma cultura que vive de costas viradas para as restantes, a um assunto transcultural que envolve todos os grupos, doravante, existindo num mesmo espaço.

A cultura ocidental desvaloriza, naturalmente, os símbolos das outras culturas com que agora tem de dialogar, porque vem de uma história orgulhosamente ventríloqua quanto às outras narrativas. O racionalismo científico levou-nos a uma relação com os outros povos parecida com a velha colonização, como se só tivéssemos de prestar contas a nós mesmos. Por isso achamos inconcebível que os outros possam sentir-se ofendidos por um 'simples' desenho, esquecendo-nos como era preciso muito menos do que isso para dar com os costados nas prisões da Inquisição.

O mundo global vai cercear-nos as liberdades 'irresponsáveis' de quando falávamos para nós mesmos. E isso não é nada quando formos questionados pela desigualdade e pela injustiça no resto do mundo.

A primeira dádiva da globalização é a Idade Média dos outros. Ao menos lembremo-nos que a nossa própria Idade Média não foi só escuridão, muito longe disso.




segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

(José Ames)

ÉCRASEZ L'INFÂME!



Voltaire (1694/1778)

“O clero anglicano reteve muitas cerimónias católicas, e sobretudo a de receber os dízimos com uma atenção assaz escrupulosa. Eles têm também a piedosa ambição de ser os senhores. Além disso, fomentam tanto quanto podem nas suas ovelhas um zelo santo contra os não-conformistas.

Voltaire ("Cartas Inglesas")

Estas cartas inglesas fazem de Voltaire um anti-Gide. Mesmo quando veste o hábito religioso do advogado do diabo, no relato sobre os quakers, os seus verdadeiros sentimentos transparecem como a vaidade dos cínicos.

Não há preconceito em que ele não toque nesta apologia dum país inimigo da monarquia absoluta e da intolerância religiosa.

O filósofo francês pôde servir-se dessa nação como duma esquadra invasora que abatesse os restos do feudalismo com armas ideológicas em vez de pólvora.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

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Bomarzo

 

NARCISO

Narciso (Caravaggio)



"E Narciso, que não duvida que a sua forma esteja num lugar qualquer, levanta-se e parte à procura dos desejados contornos para envolver enfim a sua grande alma. Na margem do rio do tempo, Narciso detém-se. Rio fatal e ilusório onde os anos passam e se dissipam. (...)"

"Le Traité du Narcisse" (André Gide)


A Narciso inquieta o desejo das ninfas. Nenhuma lhe parece tão bela para merecer o desejo que ele próprio desperta. Procura esse segredo até encontrar o objecto ideal na água de uma fonte.

Em Caravaggio, vemo-lo formando um círculo com a sua imagem reflectida. Mas em que é que o seu rosto se distingue das outras formas que aparecem no espelho, pergunta Gide? Mas o pintor, fiel ao seu 'tenebrismo', faz esse rosto emergir da escuridão. Narciso vê-se a si próprio e mais nada. Pensou ter encontrado o desejo das ninfas e a lenda reza que morreu do encantamento.

Gide diz que o espelho era na verdade o rio do tempo, o tempo que devora a imagem. Que paixão perdeu o filho do deus-rio? Não foi propriamente o amor da sua própria beleza, mas o desejo do desejo.



terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Sem título

(José Ames)

 

PARUSIA

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"Foram eles (os jovens Hegelianos) que libertaram essa figura do pensamento que é a crítica da modernidade, a qual se inspira no espírito da modernidade, do peso do conceito hegeliano de razão."

(Jürgen Habermas)

Sabe-se que a Revolução Francesa foi determinante para mudar a forma de ver a história e conferir à humanidade o papel de sujeito nessa história.

Com a sua 'racionalidade', inspirada nos filósofos do século XVIII, esse grande movimento pôde 'escrever' as revoluções futuras. Já os antigos romanos, sobretudo os do tempo da República, tinham servido de modelo aos homens da Convenção. Lenine fará questão, mais tarde, de não cometer os erros da Revolução de 1789 e da Comuna de Paris (1871).

A Razão universal em Hegel, sem dúvida ainda um legado teológico, apropriar-se-á desse movimento histórico, como acção do pensamento que nega a forma da sociedade existente. A crise social liberta a Crítica e o sujeito dessa crítica que é a Razão hegeliana.

Os 'Jovens Hegelianos' pensaram corrigir o erro do velho mestre que, segundo eles, tinha colocado a dialéctica assente sobre a própria cabeça, virando-a ao contrário, com o que teria passado a poisar com os pés no 'mundo real'.

Hegel tinha atrás de si o acontecimento revolucionário quando formulou o seu sistema. Os seus herdeiros passaram a ter a Revolução à frente deles. Pensavam ter descoberto uma lei da História e encontraram a Parusia...


 

 

 

 

 

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Sem título

Burgos

 

O OBJECTO POÉTICO

Les Murray

 


Diz o poeta australiano Les Murray que para se pensar claramente em termos humanos, temos de ser impelidos por um poema. (citado por Simon Leys)

Claramente é que pode ser controverso, porque nenhum de nós consegue chegar à raiz dessa clareza, que não é lógica nem discursiva. Mas o autor acrescenta: 'em termos humanos', o que muda tudo. Pensar claramente em termos humanos pode ser tão obscuro como Heráclito, apropriadamente apelidado de o 'Obscuro'.

Se a poesia fosse o nosso único modo de pensar, não teríamos construído a primeira máquina (talvez devesse dizer antes, que as máquinas não se teriam multiplicado, porque a invenção é poética, ou não é). Evidentemente, a lógica é uma espécie de guilhotina que não podemos dispensar. Mas isso é pensar em termos do mundo (a razão é agrimensora, mede a nossa relação com a terra e com a parte social dos outros).

Enquanto o poema se afasta da 'regra e do esquadro' e é tão 'indissecável' como o eterno problema filosófico da ligação do corpo e da alma. É por isso que não temos o direito de julgar, e é preciso julgar. As máquinas são necessárias e as prisões e a falsa justiça. Somos perfeitamente capazes de pensar em termos não-humanos. Foi isso que nos pôs na lua, entre outras coisas enormes.

Embora a lua que nos atraiu seja um objecto poético.