terça-feira, 30 de dezembro de 2014

(José Ames)

A CAMISA DE NESSUS




Hannah Arendt costumava responder aos que se preocupavam com o seu excesso tabagístico e o seu ritmo de trabalho, que não ia começar a viver para a sua saúde.

É a recusa do "cadáver adiado que procria" do poema de Pessoa. A ideia de um plano ou de uma cadeia de montagem de que fazemos parte inconscientemente e que tem 'objectivos a cumprir', quer queiramos, quer não.

Mas, levando mais longe essa recusa, por que deveríamos viver para qualquer outra coisa? Arendt viveria para a filosofia e talvez achasse que para tirar maior partido  da sua inteligência precisava dum estimulante como o tabaco e de viver em permanente 'stress'. Pode ser. Mas nunca vamos directamente para o que nos destrói. Pelo caminho há o declive e a perfusão.  Ela que crismou a  'banalidade do mal', sabia que o hábito se nos cola à pele. É arriscado falar em escolhas.

Viver para a saúde é decerto diferente de viver com saúde. Mas Héracles, depois de vestir a camisa de Nessus, viu a sua carne incendiar-se e já não pôde arrancar a veste do corpo. Nessa altura, o herói resignou-se a morrer. Foi o seu último trabalho, o de desfazer-se do 'hábito'.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Sem título

Adare (Irlanda)

 

UMA NOVA ATITUDE

 

Li, num estudo recente, que o consumo de tabaco está a diminuir entre os jovens. Isso não me surpreende nada, porquanto o que leva a contrair esse vício tem uma causa psicológica e o exemplo dos outros é fundamental para nos desresponsabilizarmos perante nós mesmos. Toda a informação negativa encontra uma resistência maior do que ela no comportamento colectivo, isto sem falar da dependência orgânica.

Basta um olhar sobre o cinema americano de há uns anos para compreendermos a função do cigarro na imagem do actor. Não foi o câncro que realmente matou Bogart, foi o ícone que tantos admiradores conquistou. Esse ícone era feito de uma ironia e de uma 'nonchalence' que a pose do fumador lhe dava.

Os Franceses têm uma expressão muito interessante a propósito da pose: "se faire une contenance". E, segundo o Larousse, "faire bonne contenance" quer dizer: "não se deixar desconcertar por um acontecimento imprevisto e desagradável." É o 'cool' dos Americanos. E é o que já significou o chapéu e a bengala. 'Exit smoking'.

Uma nova 'atitude' está a substituir, rapidamente, a pose do fumador. Não me refiro nem à higiene nem ao politicamente correcto. É o telemóvel.

Em qualquer lugar, onde uma pessoa não sabe o que fazer com as mãos e dantes puxava de um cigarro, o que se vê é alguém tirar logo o telemóvel do bolso. 'Manipular', 'adorar' esse pequeno objecto vindo do futuro é a pose moderna.

 

domingo, 28 de dezembro de 2014

Sem título

 

(José Ames)

 

A CONFISSÃO

Christine Garnier e Salazar

 


Christine Garnier, a jornalista francesa que, nos anos cinquenta, veio a Portugal entrevistar Salazar e que, com ele, teve um suave 'affair', registou esta confissão do ditador: "Não creio no destino [...]. Creio na Providência. É ela que, há tantos anos, me força a um labor contrário aos meus gostos."(*)

Não temos razão nenhuma para duvidar de ser essa a convicção de Salazar. A riqueza não era certamente a sua motivação, ele que acabou os seus dias dependente de um decreto para ter alguns meios de sobrevivência. Quanto ao poder, é outra coisa. Mas qual o ambicioso que, finalmente tendo alcançado o 'poder absoluto', descuraria assim a sua velhice, o seu próprio e legítimo interesse?

As suas origens, a sua formação católica (mas a sua relação com a Igreja não foi de obediência, apesar da sua conhecida amizade com Cerejeira, uma amizade distorcida pela política), explicarão, talvez, aquele alegado 'espírito de missão' e a ideia que ele se fazia de si próprio de ser o homem certo na hora certa. Daí a degenerar esse sentimento para a ideia de ser insubstituível foi o declive natural.

Esse deslize progressivo do poder para a paranóia é perfeitamente compatível com a sinceridade da sua confissão a Garnier. Quanto mais o 'labor' político o afasta dos seus gostos, pretensamente preteridos, mais a situação se aproxima do masoquismo.

Quanto ao destino, não é uma ideia moderna fora da canção nacional. Tem de haver lugar para a acção, real ou ilusória. Por isso, a Providência, que nos deixa perambular, mas sempre na boa direcção.

 

 

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Porto

DESÍGNIOS





"A Inquisição Espanhola não foi uma tentativa arcaica de preservar um mundo religioso ultrapassado; foi uma instituição moderna concebida pelos monarcas para criar a unidade nacional."

"The Case for God" (Karen Armstrong)


Seria mais justo, parece-me, dizer que, existindo uma tendência dentro da Igreja para tornar exclusiva uma das possíveis interpretações  do 'texto sagrado' e da história da própria Igreja, se tornou evidente para a monarquia o papel que a Inquisição poderia desempenhar na centralização do poder e na construção da unidade nacional.

Como no caso de grande parte das descobertas científicas, que é devida ao acaso (mas não, evidentemente, o acaso fora de um contexto científico), os inevitáveis excessos do papado poderão ter inspirado os monarcas no caminho de um primeiro esboço de um outro tipo de unidade política, fundada na ideia religiosa moderna, em vez de o ser na força militar e na tradição ancestral.

É mais um exemplo de uma espécie de Providência darwiniana. O erro humano e as ilusões que nos acompanham a todos parecem seguir um guião inconsciente...

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Sem título

(José Ames)

 

CAPITALISMO TOTAL


"Ou que, no essencial, governa a mundialização, é um liberalismo dogmatizado, rigidificado, um "capitalismo total", para retomar a expressão recente do antigo banqueiro Jean Peyrelevade.

Muito curiosamente, este liberalismo dogmatizado que surgiu depois da derrocada do comunismo tomou de empréstimo ao seu infeliz rival alguns dos seus dogmas mais perigosos, como se o morto tivesse agarrado o vivo. O economismo absoluto, o pretenso primado da economia financeirizada, postos como se sobre isso nada houvesse mais a dizer, ressuscitam por exemplo a velha dogmática marxista das infra-estruturas comandando as super-estruturas.(...)"

"(...) De maneira mais espantosa ainda, a ideologia do "capitalismo total" apropria-se do velho conceito hegeliano do "sentido da História" que foi durante muito tempo o apanágio - e a astúcia - dos regimes comunistas. Está-se a falar da pretensa inelutabilidade dos processos em curso e deste anúncio indefinidamente remetido para mais tarde dum sucesso ou duma "recompensa" que viria um dia, forçosamente, justificar os sacrifícios do presente dando-lhes retrospectivamente sentido."

"La grande inquiétude" (Jean-Claude Guillebaud)

Se ideias como o sentido da História e da sobredeterminação económica não morreram e podem ser assumidas hoje ainda, com uma pequena cosmética, pelo mais camaleónico dos sistemas é porque correspondem a um núcleo irredutível de religião.

O sentido da História, depois da ideia da salvação, não foi ainda destronado por nenhuma ideologia "laica". E o primado das condições inferiores é o reconhecimento da antiga Necessidade, da qual nem os imortais se podem subtrair.

 

domingo, 21 de dezembro de 2014


Porto (José Ames)

NÚMEROS E POÇÕES


"Uma vez a moeda apanhada neste movimento que tem o carácter duma fuga, é impossível encontrar um limite superior. Da mesma maneira que se pode contar para cima, não importa até onde, o dinheiro pode desvalorizar-se até qualquer nível para baixo."

"Masse et Puissance" (Elias Canetti)

Canetti fala da inflação.

Não existe, talvez, melhor demonstração de como a chamada ciência económica funciona do que o controle da inflação.

Mas conhecer a moeda não é nada se não se conhecerem os homens. Sem sugestão e encenação não há resultados que se vejam.

Às vezes basta arrefecer a imaginação.

sábado, 20 de dezembro de 2014

(José Ames)

À ESPERA DE ORDENS


CODICE D ONORE DEL LEGIONARIO


"Ele só pode ignorar a encruzilhada: se alguma se apresentasse, não era ele que ia decidir sobre o caminho a tomar. A sua vida activa está limitada de todos os lados. Ele faz aquilo que todos os outros soldados fazem com ele; e faz o que lhe é ordenado. A privação de todas as acções que os outros homens executam livremente, segundo crêem, torna-o ávido por acções que ele deva executar."

"Masse et Puissance" (Elias Canetti)


A ideia é que não se pode bater ou reprimir sem criar uma tensão que tem de libertar ou transformar energia, como a cabeça dum prego que se enterra, um explosivo ou um sintoma.

A instrumentalização do soldado é de todos os tempos. E as palavras de ódio, as doutrinas que negam o homem são o equivalente da violência exercida sobre o corpo do "instruendo".

Só deixam um caminho aberto ao pensamento, donde emergem alguns monstros da actualidade.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Bolhão (José Ames)

OFF OFF BAEDEKER


"A Room with a view" (1985-James Ivory)


"Então, o encanto pernicioso da Itália actuou nela e, em vez de adquirir informação, começou a ser feliz."

E.M. Forster ("A Room with a view")


"A Room with a view", agora revisto, conserva o perfume macerado da flor entre as folhas dum livro.

Miss Honeychurch não segue as indicações do seu Baedeker, mas procura as sensações que, nessa Toscânia amada dos deuses, vêm de todos os lados ao seu encontro.

Mas o que são umas férias e o que ficará desse sortilégio, uma vez regressada à "vitoriana" realidade?

Não há como os Ingleses para idealizar a Itália. Coisa fácil para qualquer estrangeiro, mas que neles tem a inspiração dum íntimo contraste.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Sem título

 

Anvers

 

O CAVALO DE TRÓIA

Talleyrand

 

"A palavra foi dada ao homem para disfarçar o seu pensamento."

(Talleyrand)

Isso é evidente num diplomata, e é a melhor maneira de regular as relações entre estados, pela arte, em vez de o serem pelas emoções.

Mas uma consequência desagradável desta arte se estender ao domínio privado, é a de que toda a conversação deveria levar a um mortal aborrecimento.

O guião desses exercícios palavrosos seria sempre o de evitar a sinceridade, e toda a invenção por pouco que pudesse ferir a susceptibilidade dos outros. A aristocracia decadente é o melhor exemplo. Por isso o abade Pirard provoca o escândalo no salão do Marquês de La Mole ("Le Rouge et le Noir") com o seu amor à verdade e à justiça. Alain disse tudo o que havia a dizer sobre isso. A minha desculpa é que, hoje em dia, quase ninguém o lê.

Toda a crítica da diplomacia fora da política (mas onde acaba esta?) segue esta linha. A palavra não mudaria a opinião das pessoas, talvez por este 'politicamente correcto' 'avant la lettre' a ter deixado exângue.

Mas, recentemente, um estudo americano veio apresentar uma conclusão um pouco diferente. As pessoas podem não ligar à mensagem, mas dão importância ao mensageiro.

E isto faz todo o sentido. A fortaleza das nossas opiniões mais firmes, e até dos nossos princípios, não desce facilmente a ponte levadiça, perante as ameaças 'catalogadas', que se anunciam de muito longe. Mas a pessoa é única, não se sabe por onde é capaz de ter acesso ao nosso 'tesouro'. É ela o verdadeiro 'Cavalo de Tróia'.

 

 

 

 

 

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Sem título

(José Ames)

 

ASTROLOGIA


"O conceito de fraternidade proposto pelos revolucionários de 1789 inspirava-se, de facto, consciente ou inconscientemente, no modelo monástico e religioso da Idade Média ocidental."

(José Mattoso)

 

Na visão de Auguste Comte, as primeiras ciências conservam-se na matriz das que se desenvolvem a partir delas. Que outro exemplo temos da ideia de fraternidade antes da versão monástica? Somos todos irmãos só porque somos 'filhos de Deus'? Então a interpretação franciscana é a verdadeira: irmão sol, irmã lua.

Os começos do conhecimento científico, que conjecturamos terem acontecido na Grécia, transformaram para sempre o nosso modo de ver o mundo mas, como não podia deixar de ser, esse conhecimento pertencia, na sua totalidade, ao mundo religioso. Coube ao mais 'palavroso' dos povos a tarefa de lançar ao oceano desconhecido do futuro, esta 'nave dos loucos', uma loucura 'articulada' (V.B.Marques), decerto, onde nos sentimos cada vez mais importantes.

Mais tarde, a Igreja veio alertar para os perigos do 'palavreado', onde o 'pecado' espreita. Tudo é possível na especulação teórica, e alguma audácia é preciso para nos fazer acreditar nos novos mitos da 'cosmologia'.

Assim, era interessante filiar as outras figuras da tríada de 1789. Reconheceríamos, mais uma vez, que os mitos fundadores nunca deixaram de nos guiar. É a parte verosímil da astrologia.

 

 

 

 


 

 

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Sem título

 

Parque de S. Roque (Porto)

 

SEMINARISMO

Laurence Fishburne and Kenneth Branagh as Othello and Iago respectively


"Faltou-lhe o calo de seminarista, que, afinal de contas, tornou dez por cento dos portugueses aptos a manifestar as incompatibilidades com o sistema, sem cair em contradição com ele."

"Ordens Menores" (Agustina Bessa-Luís)

Também é costume falar de espírito jesuítico a este propósito. Na história, abundam os exemplos de ex-seminaristas, como Estaline, dotados da capacidade de empregar o 'espírito contra ele próprio', que é talvez a melhor definição do 'satânico', na tradição cristã.

Ora, o 'calo' de que fala Agustina ultrapassa em muito a instrução eclesiástica. É uma analogia política que procura caracterizar um comportamento típico e uma certa maneira de pensar. A reserva mental, por exemplo, não é um exclusivo do jesuítismo. Iago, a personagem do "Othello", é um ser dúplice e acomodatício para não levantar suspeitas que prejudiquem a sua traição.

A versão do 'calo de seminarista' é mais benévola e idiossincrática. Satisfaz o vício da maledicência e, ao mesmo tempo, apropria-se dum 'bónus' de independência. Isto é mais 'arte de viver' do que outra coisa qualquer.

Por isso surpreende a fúria da nossa guerra civil.

 

 

 

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Sem título

(José Ames)

 

IMITADORES

Roberto Calasso

 


"A imitação é o gesto mais perigoso para a ordem do mundo, porque tende a apagar os limites."

"Le nozze di Cadmo e Armonia" (Roberto Calasso)


Não é por isso que a ditadura é a pior desordem? O medo reduz os gestos ao mínimo, e todos se cingem às tácticas de sobrevivência. A imitação dos que sobrevivem é a lei.

Numa sociedade livre todos se querem distinguir, como diz Nietzsche, mas aos poderosos não convém que se perca essa fonte de energia. Por isso, procuram por todos os meios canalizar esse caudal em proveito próprio. Não seríamos justos, porém, se não reconhecêssemos que, ao longo da história, alguns conseguiram, por um tempo, abster-se de beneficiar do poder.

Os limites de que o autor fala são uma noção central na civilização grega. As leis atenienses procuraram tornar esses limites sempre presentes, mas nenhum filósofo foi capaz de precisá-los. É algo que a cultura e a própria língua tornam implícitos à ordem do mundo.

É curioso que um instinto como o da imitação, que é a forma, enquanto crianças, de aprendermos com os pais e os mais velhos, se torne na cidade um mal político. Porque ele significa que abdicamos de pensar por um ilusório amor à segurança, ou por simples preguiça.

Não é assim quando se imitam 'os melhores', mas pela própria natureza da democracia o outro não pode ser melhor do que nós, porque somos levados a confundir o bem (claro que já nem estamos certos do que isso possa ser) com os direitos cívicos. Segundo essa ideia, as qualidades não tornam as pessoas 'melhores', mas podem torná-las 'desiguais'.

A massificação mediática parece inevitável e leva a maior parte da 'água a este moinho' da imitação negativa.

Quanto à ditadura, é o que se sabe...

 

 

 

domingo, 14 de dezembro de 2014

Sem título

Génova (José Ames)

O TOTEM DO GLOBAL

http://tina.merandon.revue.com/business/photo4.shtml


Como, há umas décadas atrás, o movimento pelo Crescimento Zero, o discurso contra a globalização parece hoje enfrentar uma realidade avassaladora, uma poderosa corrente em que vêm confluir os caudais libertados pela revolução tecnológica e dos meios de comunicação e pelo fim das últimas barreiras (ideológicas) ao mercado total.

Segundo Jean-Claude Guilleband ("La grande inquiétude"), ninguém estaria interessado (no mundo ocidental, presume-se) em travar esse movimento através do totalitarismo, o fundamentalismo ou a polícia política. Mas a democracia, congenial a esta expansão do mercado, não deixaria de ser ameaçada por uma estirpe agressiva do liberalismo.

A velocidade a que tudo isso se passa torna o mundo cada vez mais pequeno e mais violento, com a intrusão das massas no habitat individual e decrescentes condições para o isolamento e a autonomia.

Não são precisas outras provas (para além do que está à vista) de que ninguém, nem nenhuma nação consegue controlar o ritmo da mudança e a sua direcção.

Desenha-se, pois, uma situação parecida com a do chamado "vazio de poder". E, como sabemos pela antropologia, nenhuma comunidade (o mundo está definitivamente a emergir como "aldeia global") dispensa a maldição do poder, nem ela se estabelece sem um crime simbólico.

A pergunta é: poderemos "queimar" essa etapa?

sábado, 13 de dezembro de 2014

Sem título

 

(Elvas)

 

PRAGMATISMO



"The last hurrah" (John Ford)




Em "The last hurrah", de John Ford (1958), o velho "mayor", na sua última campanha eleitoral, convida o apolítico sobrinho para se instruir sobre o maior desporto americano.
O velório dum irlandês pouco apresentável, de quem toda a gente tinha razões de queixa, torna-se uma reunião comicieira, em que se distribuem bolos e apertos de mão, apenas com o mais que prudente embargo do álcool, dadas as circunstâncias.

Alguém do "staff" explica ao jovem decepcionado a substância da coisa. O que é que perdia o morto com essa homenagem desviada? Nada. Ele nem a presença do cangalheiro merecia. Por outro lado, era assim que se ganhavam os votos, tão necessários para um homem justo continuar à frente da câmara.

Mais um exemplo do famoso pragmatismo americano.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Sem título

 

(José Ames)

 

A REPÚBLICA

http://tresnormale.com/wp-content/uploads/2012/05/cassirer_black.jpg

 

Na 'República', "a política foi declarada como sendo a chave da psicologia."

(Ernst Cassirer)

Era também, de qualquer modo, a interpretação de Simone Weil. A 'magnum opus' platónica é 'apenas' um tratado de política ou o estudo 'em grande' para se compreender o 'mais pequeno', a mónada social, ou a psicologia do indivíduo?

Depois de ler o ataque de Karl Popper a esta obra admirada durante milénios, na base do desprezo de Platão pela democracia, não podemos ter dúvidas quanto ao tipo de abordagem literal do filósofo austríaco. Uma abordagem que, estranhamente, não se pode dizer tradicional. De facto, o enorme prestígio de Platão no mundo ocidental que, como se sabe, é uma das grandes fontes do Cristianismo, impediu que se tirassem todas as consequências do seu ensinamento no plano prático da política. Mas para Popper, o totalitarismo do século XX encontrou rapidamente uma paternidade, por longínqua que possa parecer.

Ora, Platão podia ainda menos do que Marx prever as características do Estado moderno e o complexo científico-tecnológico dos nossos dias. Nem Esparta pode ser considerada totalitária, ao modo arendtiano. Por esse critério revisionista e historicamente absurdo, não poderíamos ver no 'pater familias' romano o núcleo do Estado totalitário?

A ideia de Weil e de Cassirer, pelo contrário, permitem compreender o falso erro do filósofo grego. Ele que tanto gostava de enigmas e de mitos, e de, tantas vezes, deixar sem resposta uma questão, decerto apreciaria a redescoberta da 'República', como um palimpsesto.

 

 

 

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Sem título

 

Parque das Nações