sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

A REPÚBLICA

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Na 'República', "a política foi declarada como sendo a chave da psicologia."

(Ernst Cassirer)

Era também, de qualquer modo, a interpretação de Simone Weil. A 'magnum opus' platónica é 'apenas' um tratado de política ou o estudo 'em grande' para se compreender o 'mais pequeno', a mónada social, ou a psicologia do indivíduo?

Depois de ler o ataque de Karl Popper a esta obra admirada durante milénios, na base do desprezo de Platão pela democracia, não podemos ter dúvidas quanto ao tipo de abordagem literal do filósofo austríaco. Uma abordagem que, estranhamente, não se pode dizer tradicional. De facto, o enorme prestígio de Platão no mundo ocidental que, como se sabe, é uma das grandes fontes do Cristianismo, impediu que se tirassem todas as consequências do seu ensinamento no plano prático da política. Mas para Popper, o totalitarismo do século XX encontrou rapidamente uma paternidade, por longínqua que possa parecer.

Ora, Platão podia ainda menos do que Marx prever as características do Estado moderno e o complexo científico-tecnológico dos nossos dias. Nem Esparta pode ser considerada totalitária, ao modo arendtiano. Por esse critério revisionista e historicamente absurdo, não poderíamos ver no 'pater familias' romano o núcleo do Estado totalitário?

A ideia de Weil e de Cassirer, pelo contrário, permitem compreender o falso erro do filósofo grego. Ele que tanto gostava de enigmas e de mitos, e de, tantas vezes, deixar sem resposta uma questão, decerto apreciaria a redescoberta da 'República', como um palimpsesto.

 

 

 

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