segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

CAPITALISMO TOTAL


"Ou que, no essencial, governa a mundialização, é um liberalismo dogmatizado, rigidificado, um "capitalismo total", para retomar a expressão recente do antigo banqueiro Jean Peyrelevade.

Muito curiosamente, este liberalismo dogmatizado que surgiu depois da derrocada do comunismo tomou de empréstimo ao seu infeliz rival alguns dos seus dogmas mais perigosos, como se o morto tivesse agarrado o vivo. O economismo absoluto, o pretenso primado da economia financeirizada, postos como se sobre isso nada houvesse mais a dizer, ressuscitam por exemplo a velha dogmática marxista das infra-estruturas comandando as super-estruturas.(...)"

"(...) De maneira mais espantosa ainda, a ideologia do "capitalismo total" apropria-se do velho conceito hegeliano do "sentido da História" que foi durante muito tempo o apanágio - e a astúcia - dos regimes comunistas. Está-se a falar da pretensa inelutabilidade dos processos em curso e deste anúncio indefinidamente remetido para mais tarde dum sucesso ou duma "recompensa" que viria um dia, forçosamente, justificar os sacrifícios do presente dando-lhes retrospectivamente sentido."

"La grande inquiétude" (Jean-Claude Guillebaud)

Se ideias como o sentido da História e da sobredeterminação económica não morreram e podem ser assumidas hoje ainda, com uma pequena cosmética, pelo mais camaleónico dos sistemas é porque correspondem a um núcleo irredutível de religião.

O sentido da História, depois da ideia da salvação, não foi ainda destronado por nenhuma ideologia "laica". E o primado das condições inferiores é o reconhecimento da antiga Necessidade, da qual nem os imortais se podem subtrair.

 

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