segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

É ISTO POSSÍVEL?

 

"Eu desejaria que o candidato respondesse ao que dizia Beethoven, no seu último quarteto: 'Muss es sein? Es muss sein.' É isto possível? Sim, é preciso mostrar que é possível."

(Edgar Morin, "Le Monde", 4/5/12)


O seguro pode tornar-se simplesmente possível e, por falta de fé, até o possível se pode tornar impossível.

O mundo dos homens é prodigioso. Não podemos calcular todos os pequenos ou grandes actos de fé que o tornaram uma segunda natureza, tal como a terra e o céu, nas nossas existências.

É, talvez, mais viril dizer que foi a vontade colectiva e a de cada um que operaram o milagre. Mas o que é a vontade se não acreditamos? Do mundo da política chegou-nos, com Obama, um eco disso mesmo, depressa repetido em toda a parte como a estrofe reencontrada duma canção antiga. Para dar lugar, depois, à descrença..., e são precisas novas palavras e novos actores para ressuscitar o 'verbo'. A nossa vontade, entretanto, voltou à jazida das nossas desilusões.

Simone Weil dizia que o espírito é 'a tensão para um valor'. É comum dizer-se que, na nossa época, perdemos os valores. Se tensão existe é para competirmos uns com os outros. Mas tal como a decadência romana deu lugar aos valores cristãos, a crise moderna talvez anuncie uma nova era.

O 'global' começa a impor-se aos 'sistemas'. A proverbial capacidade proteica que tem levado o 'capitalismo' a adaptar-se e a mudar de forma já tem pouco a ver com o 'materialismo dialéctico'. Não podemos inspirar-nos nas velhas disciplinas do século XIX para compreender o fenómeno. O último avatar dessa tradição foi, talvez, Thomas Piketty. O seu sucesso deveu-se a um atraso de ordem teórica, face aos modelos que a partir da nova ciência podem ser concebidos. A dificuldade está na síntese de tantas interrogações e de tantos avanços...

 

0 comentários: