quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

NARCISO

Narciso (Caravaggio)



"E Narciso, que não duvida que a sua forma esteja num lugar qualquer, levanta-se e parte à procura dos desejados contornos para envolver enfim a sua grande alma. Na margem do rio do tempo, Narciso detém-se. Rio fatal e ilusório onde os anos passam e se dissipam. (...)"

"Le Traité du Narcisse" (André Gide)


A Narciso inquieta o desejo das ninfas. Nenhuma lhe parece tão bela para merecer o desejo que ele próprio desperta. Procura esse segredo até encontrar o objecto ideal na água de uma fonte.

Em Caravaggio, vemo-lo formando um círculo com a sua imagem reflectida. Mas em que é que o seu rosto se distingue das outras formas que aparecem no espelho, pergunta Gide? Mas o pintor, fiel ao seu 'tenebrismo', faz esse rosto emergir da escuridão. Narciso vê-se a si próprio e mais nada. Pensou ter encontrado o desejo das ninfas e a lenda reza que morreu do encantamento.

Gide diz que o espelho era na verdade o rio do tempo, o tempo que devora a imagem. Que paixão perdeu o filho do deus-rio? Não foi propriamente o amor da sua própria beleza, mas o desejo do desejo.



1 comentários:

Carlos Natálio disse...

A proposito do narcisismo sugiro-lhe um livro que acabei de ler "A Agonia do Eros" de Byung-Chul Han.

Cumprimentos :)