"O argumento do mal menor desempenhou um papel de primeiro plano na justificação moral que tentaram apresentar os servidores do regime. Trata-se de um argumento que se desenvolve, dizendo que, quando somos confrontados com dois males, o nosso dever é escolher o mal menor, ao mesmo tempo que recusar essa escolha constitui uma atitude irresponsável."
"Responsabilidade e Juízo" (Hannah Arendt)
Este argumento permitiu aos dirigentes nazis fazer aceitar o inaceitável, até o ponto em que o mal menor já não se distinguia do pior possível.
Hannah Arendt acrescenta que, à excepção de Kant, não veio da filosofia a intransigência contra este argumento, mas da religião.
Assim, no Talmude: "se nos pedirem que sacrifiquemos um homem em benefício da segurança de toda a comunidade, não o devemos entregar; se nos pedirem que cedamos para ser violada uma mulher em troca da salvação de todas as mulheres, não a devemos ceder."
"(...) Politicamente a fraqueza do argumento do mal menor está no facto de aqueles que o escolhem se esquecerem sempre e muito rapidamente de que escolheram um mal." (ibidem)
Nós temos uma expressão para um dilema destes: "entre os dois, venha o diabo que escolha."
Não há dúvida, todavia, que no menor dos males existe uma aparência de razoabilidade perante as opções a que não podemos escapar, mas muitas vezes é apenas a nossa falta de coragem que encontra um aliado na razão.
Hannah Arendt refere-se à polémica em torno da peça de Rolf Hochhuth, "O Vigário". Foi em nome do mal menor que a Igreja adoptou perante o regime hitleriano e o holocausto uma atitude que muitos consideraram de conivência.
Se Pio XII tivesse aberto essa "frente" espiritual, talvez se tivesse antecipado o fim das atrocidades. E que revolução isso não seria!
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