terça-feira, 17 de abril de 2007

A VOZ DO NUNCA VISTO



"A voz de uma mulher ao telefone permite dizer se quem fala é bonita. O timbre reflecte como segurança, naturalidade e tranquilidade todos os olhares de admiração e de desejo que alguma vez lhe foram expressamente dirigidos. Ela expressa o duplo sentido da palavra latina gratia: agradecimento e graça. O ouvido percebe o que é próprio do olho, porque ambos vivem da experiência de uma mesma beleza. Esta é reconhecida já no primeiro momento: notificação íntima do nunca visto."

"Minima Moralia" (Theodor Adorno)


Como se se aplicasse aos sentimentos e às ideias a lei de Lavoisier.

A matéria também tem memória.

No outro dia, o ortopedista disse-me que os Raios X têm uma propriedade aditiva: as novas radiações somam-se às antigas que são "conservadas" nos nossos ossos.

O nosso ouvido ao telefone é então como um contador Geiger reconhecendo o efeito sobre a voz que se ouve da radiação da beleza.

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