"Sebastiane" (1976-Derek Jarman)
Na arte, toda a provocação perde a sua força com a mudança dos costumes.
S. Sebastião, antigo capitão da guarda pretoriana de Diocleciano, passou à iconografia como um mártir em que na nudez escultural se exalta o sacrifício da juventude e da beleza, mas que em certas representações uma atitude equívoca do corpo crivado de setas sugere o que hoje chamamos de masoquismo.
Derek Jarman, com o seu primeiro filme, "Sebastiane", abstraiu-se quase completamente do contexto histórico e da motivação religiosa do personagem para se entregar, com alguma complacência, à hagiografia "desviada" do santo, tal como uma a elaborou parte da cultura moderna.
A morte de Sebastião surge aqui como o resultado do desejo trágico, cuja impossibilidade parece, apesar de tudo, abstracta, dada a insuficiente caracterização psicológica.
E podíamos ver neste final uma variação do tema de Salomé. Como S. João Batista, Sebastião é condenado à morte por despertar um desejo impossível, que o facto de ser partilhado torna mais impossível ainda na dialéctica do sacrifício.
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