terça-feira, 17 de abril de 2007

RETROPROJECÇÃO



"Quem sabe se os Gregos, precisamente na riqueza da sua idade juvenil, não quiseram o trágico, não foram pessimistas? Quem sabe se não foi o delírio, para retomar uma expressão de Platão, que espalhou sobre a Hélada os maiores benefícios e se, por outro lado e inversamente, os Gregos, na época da sua deliquescência e da sua fraqueza, não se tornaram cada vez mais optimistas, superficiais, declamatórios, ferrenhos da lógica, desejosos de reduzir o universo à lógica, portanto, também mais "serenos" e mais "científicos"?"

"O nascimento da tragédia" (Friederich Nietzsche)


O racionalismo, vê-se, está aqui no banco dos réus, como um sinal de que o homem se separou do ser universal e da sua força misteriosa, para se entregar à ilusão de que se criou a si próprio e ao ideal de viver uma vida controlada.

O optimismo é filho dessa ilusão e da superficialidade da lógica.

Mas estará o pessimismo melhor fundamentado? E não é a idade juvenil, justamente, superficial e calculando mal a sua força, por natureza optimista?

O pessimismo de Nietzsche tem essa qualidade anti-burguesa, comum a todo o profetismo da época, que o leva a projectar no passado a pulsão suicida da sua classe.

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