domingo, 15 de abril de 2007

NÃO SE DENUNCIA O ÓBVIO



Como a indicar, com Baudrillard, que hoje em dia tudo se recicla, "O Caimão" (2006-Nanni Moretti) começa pela redescoberta do rebotalho dos anos 70, retrospectivamente enobrecido sob o título de um "protesto contra o cinema de autor".

No seu estúdio cercado pelos credores, Bruno Bonomo encara o projecto duma jovem inexperiente de um filme anti-Berlusconi, sobre a Itália dos últimos 30 anos, como uma boa ideia para sair de apuros. Infelizmente, ninguém parece acreditar na necessidade de denunciar uma coisa que toda a gente sabe. É desse facto, dessa corrupção das consciências que vem a força de um personagem como Berlusconi.

O projecto tem de ser abandonado e Bruno volta à rotina, com a filmagem do regresso de um improvável Colombo na sua incrível caravela.

Mas o filme não acaba aqui. Numa espécie de post-scriptum em forma de parábola, assistimos ao julgamento e à condenação do magnata italiano, a que se segue a insurreição contra os juízes do "seu" público, essa criatura da televisão feita à sua própria imagem.

E é com esta profecia pessimista que Moretti ajusta contas com a política do seu país.

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