sábado, 7 de abril de 2007

OCCIDENTAL PRIDE


"300" (2007-Zack Snyder)


Se não soubéssemos que o filme foi inspirado na banda desenhada (de Frank Miller), encontraríamos nele estranhas incongruências. Quando, de súbito, os espartanos deixam o nível da praia e aparecem a empurrar os persas ou os elefantes do alto da falésia, isso só é assim porque há um desenho dessa queda espectacular no abismo.

O drama deixa-se então inflectir pelo grafismo que lhe é anterior. Graças a essa "traição" do cinema, temos algumas imagens de facto impressionantes e que, apesar de distorcerem a lógica, para não falar da verdade histórica, estão longe de prejudicar a narração.

Estamos em plena mitologia e só podemos lamentar que o laconismo não tivesse sido igual ao desses heróis, de modo a não termos de despistar os traços de uma psicologia anacrónica.

Um tema decerto fascinante é o de saber se este é um filme proto-fascista, como já lhe chamaram, e se corresponde à crítica de Ahmadinejad, um homem que só podia recusar aquela imagem de Xerxes e dos seus antepassados.

Não há dúvida que a conjuntura da política internacional confere um sentido inequívoco a "300". Como se o Ocidente se encontrasse na encruzilhada de Hércules e tivesse de escolher um caminho. O filme mostra nas Termópilas um dos actos inaugurais da nossa identidade. Fá-lo conscientemente, num espírito de perfeito maniqueísmo, como é o espírito da guerra.

A última imagem, com o punhado de espartanos caídos ao lado dos seus escudos e um Leónidas ensanguentado no meio tem uma forte ressonância cristológica.

Resta que aos persas não é feita a justiça que Homero prestou aos adversários dos Gregos, em Tróia, mas isso não se podia pedir a este filme cujo espírito é, ao mesmo tempo, o de uma proeza técnica e o de um manifesto "religioso".

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