quinta-feira, 26 de abril de 2007

ROMA, CIDADE ABERTA


"Roma, cidade aberta" (1945-Roberto Rossellini)


Através das várias histórias da resistência contra o ocupante, prepara-se a crucial cena da morte do chefe comunista às mãos dos seus torcionários, sem que lhe tivessem arrancado uma palavra.

D. Prieto (Aldo Fabrizio), o padre católico, também ele apanhado pela Gestapo, é testemunha desse heroísmo, e o facto do herói não acreditar em Deus só pode encher de júbilo o sacerdote, por revelar, não só os "ínvios caminhos" da Providência, mas a capacidade humana de resistência ao mal.

Esta crença no Homem que persiste em todos os filmes de Rossellini não é uma crença optimista. Para que o mal exista em toda a sua força é preciso que seja encarnado. Apesar da nota discordante do oficial alemão embriagado que destila o seu derrotismo, ou do comandante impressionado com a apóstrofe do padre sobre o cadáver de Manfredo, os alemães são representados com o traço rápido da caricatura, sempre do exterior e quase sem psicologia.

Nesse sentido, o filme sofre da sua proximidade com o tempo da guerra e não se aparta das regras do género.

A grandeza do cineasta está, porém, na autenticidade das suas personagens, como a da senhora Pina, interpretada por essa genial Ana Magnani, ou de D. Pietro, no detalhe realista, na sua crença de que a verdade só se deixa surpreender de improviso, sem grandes artifícios técnicos e contando com o imprevisível da própria representação de actores sem prática, como os que foi buscar à população de Maiori, e aos pés dos quais, segundo o testemunho da Bergman, prendia um cordão para os alertar de quando deviam dizer a sua deixa.

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