quinta-feira, 12 de abril de 2007

O SINTOMA E A CAUSA



"Tucídides coloca o problema de um ponto de vista completamente novo. Distingue entre as razões da discórdia que acenderam a luta e a "verdadeira causa" da guerra, chegando à conclusão de que esta reside no incrível aumento do poderio de Atenas, que constituía uma ameaça para Esparta. O conceito de causa provém do vocabulário da Medicina, como deixa ver a palavra profasis que Tucídides emprega. Foi ela que pela primeira vez estabeleceu a distinção científica entre a verdadeira causa de uma enfermidade e o seu mero sintoma."

"Paidéia" (Werner Jaeger)


Entre Esparta e Atenas fizeram-se acusações mútuas sobre a responsabilidade da guerra do Peloponeso, como é comum verificar-se nestes casos. A questão de saber, por exemplo, quem começou as hostilidades é a que mais prende as imaginações.

Ao desprezar essas questões, como simples sintomas, Tucídides não se pôde basear nas declarações de cada um dos contendores, mas fazendo "ouvidos de mercador" procurou uma causa que estivesse à altura dos sacrifícios exigidos pela guerra.

É claro, no caso da guerra de Tróia, que por detrás do rapto de Helena por Páris, os Gregos nunca deixaram de ver a vontade dos deuses.

A hipótese de Tucídides é de facto revolucionária e implica um conhecimento mínimo, não da mitologia, mas do homem, enquanto "medida de todas as coisas".

Vemos também que mais de dois mil anos depois, nos conflitos mais intrincados e violentos e que se encontram num perpétuo impasse, como é o da Palestina, a discussão se mantém sempre ao nível dos sintomas.

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