"Danton" (1982-Andrzej Wajda)
Há detalhes que valem mil explicações. Quando a governanta de Robespierre, no filme de Andrzej Wajda, esbofeteia a criada por seguir de olhos gulosos o "Incorruptível", na sua casaca verde "severamente escovada" (Michelet), porque: "não se olha assim o cidadão Robespierre!", percebemos na expressão reprimida da mulher do povo o fascínio que une a sexualidade e a morte.
Os revolucionários não dormem, desde o Comité de Salvação Pública, e tudo no cenário indica o carácter opressivo da urgência, como se a fadiga colocasse aquele punhado de homens sob o signo de um deus malévolo que se fizera passar pela História.
Há uma cena, em John Reed, em que também Lenine descansa, entre reuniões, deitado no soalho.
Wajda dá-nos uma lição de política na maneira como Robespierre, que se opõe, de início, contra quase todos os outros, à prisão de Danton (em nome da dívida de gratidão que a Revolução tem para com um tal homem), alcança o consenso, depois de um momento de reflexão em que esconde o rosto entre as mãos (- Mas tu estás a rezar, Maximilien!).
Sem responder ao colega que insinua um recolhimento religioso no antigo protegido do bispo de Arras, Robespierre, num volte-face, alia-se à maioria considerando Danton culpado de traição, mas argumenta que, apesar disso, não deve ser preso no interesse da Revolução...
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