quinta-feira, 5 de abril de 2007

A RAZÃO LIBERTINA


Uma das prisões do Marquês de Sade, na Saboia



"Não tenho vergonha de declarar que a Ilíada de Homero me foi menos útil do que as Memórias de Casanova para esclarecer a minha concepção das atitudes em relação à vida enquanto dados irracionais."

"Solitude et destin" (Emil Cioran)


Passe a "boutade". Porque é evidente que se o irracional é parte da nossa vida, a obra de Homero está repleta de exemplos de que o homem raramente é motivado nas suas acções pela razão.

O facto de toda a racionalidade humana estar subordinada à vontade dos deuses faz dela uma triste ilusão. E tinha de ser assim num mundo em que prevalecia a ideia do destino e de uma ordem cósmica inspirada pela lei política.

Além disso, parece-me que muitas vezes Cioran se refere mais propriamente ao não-racional do que ao que é contrário à razão.

As Memórias do grande libertino do século XVIII, sem a subordinação à mitologia, nem o constrangimento da forma apresentam, naturalmente, uma outra riqueza no detalhe psicológico, mas são o exemplo de uma vida orientada pela "performance sexual", motivo que não repugna à razão e que Casanova apoia, de resto, com divagações filosóficas.

Quer-se homem mais racional do que Sade, outro filho das Luzes?

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