"Inland Empire" (2007-David Lynch)
Quando lhe perguntaram, na conferência de imprensa de Veneza sobre "Inland Empire", o que significava um dos coelhos da "sitcom", Lynch respondeu sibilinamente que não sabia. Tudo parece ter sido entregue ao acaso e às carambolas de sentido neste filme, em que, como em nenhum outro da sua filmografia, se expõe (no sentido passivo da expressão) o processo criativo de um dos mais originais cineastas da sua geração.
Mas tudo contribui por isso para que se decepcione a memória do encantamento que nos levou ali, para aguentar durante três horas, através de uma técnica "retrógrada" (deixamos a alta definição por uma espécie digital de super 8), as convulsões do oráculo.
Adeus mistério e sortilégio de obras como "Lost Highway" ou "Mulholand Drive"! Aqui assistimos, pela redundância, à paródia do método lyncheano. A réplica da réplica, a imagem do espelho "en abyme", a representação carregada de um sentido gratuito, os corredores, as portas, a simulação do "suspense", tudo acompanhado duma música de submarino que se repete até à exaustão.
Eu salvaria deste naufrágio, a ideia da "sitcom" dos coelhos, precisamente, com o "non-sense" das gargalhadas de um público invisível, que nos remete para a televisão como modelo do "real", e a cena final em que Laura Dern vem morrer numa golfada de sangue junto de alguns marginais, enquanto estes prosseguem o seu diálogo casual, como se, de facto, estivéssemos em Hollywood e a morte só pudesse ser encenada.
0 comentários:
Enviar um comentário