"Um artigo publicado por Hans Morgenthau no New York Times Magazine ("Reaction to the Van Doren Reaction", 22 de Novembro de 1959) assinalava estas evidências: era condenável conversar a título remunerado, duplamente condenável quando o tema eram questões intelectuais, e triplamente condenável no caso do conversador ser um professor. A resposta ao artigo foi de extrema indignação: tratava-se de um juízo que contrariava os preceitos da caridade cristã, e não se poderia esperar de ninguém, excepto de um santo, que resistisse à tentação representada por uma quantia de dinheiro tão elevada como a oferecida pelo programa."
"Responsabilidade e Juízo" (Hannah Arendt)
Deste caso, Hannah Arendt, ressalta que de todas as pessoas envolvidas, o público só considerou censurável a atitude do "homem que julgara, e não aquele que agira erradamente - ele próprio, e não uma instituição, não a sociedade em geral ou os meios de comunicação de massa em particular."
Portanto, o que todos se sentem incapazes de fazer, neste caso, de resistir ao dinheiro (pelo menos, quando está em causa algo de tão abstracto como o espírito desinteressado ou a dignidade do ensino), não deve ser censurado. Deve sê-lo, sim, aquele que se julga superior aos outros a ponto de criticar o que é natural que todos façam.
É claro que este é um exemplo perfeito da influência degradante do colectivo, do Grande Animal de Platão, que aqui se defende, "instintivamente".
Todos conhecemos na vida de todos os dias pessoas que criticam os políticos acusados de corrupção, mas para acrescentarem, logo a seguir, que fariam o mesmo se estivessem no lugar deles. Dizem-no com uma nuance de indignação, como se o exemplo vindo de cima lhes desse direito a eles de fazerem exactamente aquilo que condenam.
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