domingo, 1 de abril de 2007

A FUNDURA DA EVIDÊNCIA


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"Podíamos pensar que os comerciantes, tão prejudicados pela complicação dos cálculos, tivessem ficado gratos por um sistema que os tornava rápidos e fáceis. Mas, pelo contrário, muitos recusaram o seu uso, argumentando que era uma prática satânica, e que os próprios números continham magia negra."

"Mathematics minus fear" (Lawrence Potter)


Desde que foi descoberto na Índia, passou-se mais de meio milénio até o sistema decimal ser usado na Europa (sec.XIV), e depois de reacções como aquelas a que se refere este autor.

Esse penoso caminhar da inteligência vem-nos lembrar que a evidência é um conceito muito relativo. Hoje, nada nos parece mais natural do que um sistema de contagem que tem por base o número de dedos das nossas mãos. Mas vemos que essa naturalidade é fictícia e que antes dele se adoptaram métodos mais rudimentares.

Podíamos então dizer que a evidência muda com os tempos e que, em profundidade, ela é feita de evidências que se tornaram erros de percepção ou ilusão dos sentidos.

A relação do homem comum com a ciência moderna é, de facto, supersticiosa, como já foi noutras eras, e baseia-se, sobretudo, no prestígio dos desenvolvimentos tecnológicos daquela, que não são sequer desafios para a nossa inteligência, porque pertencem a um domínio demasiado especializado.

Essa diferença é fundamental em relação ao sistema decimal: essa ciência nunca se tornará, para nós, "evidente".

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