"Johnny Guitar" (1954-Nicholas Ray)
Aquele início de "Johnny Guitar" no "saloon" de Vienna, perdido na tempestade de pó do deserto, sem clientes, mas com a roleta a girar e o empregado do bar suspenso da palavra que a sede há-de ditar nos lábios do improvável forasteiro, faz-me lembrar a paranóia de alguns lugares artificiais, em que nem mesmo a multidão consegue esconder o vazio que os "consome".
Quem viu a Crawford como "mulher fatal" ou "lady as a tramp", reconhece que tudo isso ficou para trás, e o sexo vacilante da patroa do "saloon", o fascínio do poder na sua voz, vão revelar um feminino mais vibrante ainda.
Quando Vienna, sentada ao piano, enfrenta o bando de energúmenos conduzidos por uma Fúria (Emma) e se ergue, no seu vestido branco (quanto é aqui voluntariamente confuso este símbolo!), para assumir um ambíguo discurso do progresso, eles sabem muito bem por que a querem "linchar", apesar de inocente. Vêem nela a ameaça futura aos seus interesses, com a nova cidade que o caminho de ferro vai fazer crescer no deserto.
Como se não fosse a "hubrys", a ambição pessoal de Vienna que lhes fazia frente!
E neste filme tão maravilhosamente pictórico, haveria que glosar interminavelmente a vibração que provoca na atmosfera o amarelo ou o vermelho das blusas de Vienna.
Tem razão Martin Scorcese ao considerar este um filme hipnótico.
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