Himenóptero
"E como esse himenóptero observado por Fabre, a vespa cavadora, que, para que as suas crias depois da sua morte tenham carne fresca para comer, chama em socorro da sua crueldade a anatomia e, tendo capturado gorgulhos e aranhas, perfura-lhes com maravilhoso saber e perícia o centro nervoso de que depende o movimento das patas, mas não as outras funções da vida, de modo que o insecto paralisado junto do qual ela deposita os seus ovos, fornece às larvas, quando eclodirem, uma presa dócil, inofensiva, incapaz de fuga ou de resistência (...)"
"Du côté de chez Swann" (Marcel Proust)
Um documentário do National Geographic daria a ver o requinte que parecerá cruel à nossa sensibilidade deste insecto, e que é apenas um caso entre muitos dos extraordinários recursos da natureza.
Mas o texto tem uma influência muito mais subtil em nós. A articulação da linguagem permite-nos não apenas ser impressionados, mas convocando toda a literatura e toda a palavra, segurar na pinça da descrição o maravilhoso e o horrível reescritos como um pensamento nosso.
0 comentários:
Enviar um comentário