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"Assim a violência esmaga aqueles que toca. Acaba por parecer exterior àquele que a manipula como àquele que a sofre; nasce então a ideia de um destino sob o qual carrascos e vítimas são igualmente inocentes, os vencedores e os vencidos irmãos na mesma miséria. O vencido é causa de desgraça para o vencedor, assim como o vencedor para o vencido."
"A Ilíada, ou o Poema da Força" (Simone Weil)
Esta argumentação é inequivocamente platónica, nos dois sentidos mais óbvios da palavra.
Ouvimos aqui a resposta de Sócrates, na "República", a um dos jovens ambiciosos deslumbrado pelas vantagens da injustiça, sobretudo no caso de poder passar aos olhos dos outros pelo contrário do que é.
Mas, tal como no preceito cristão de dar a outra face a quem nos esbofeteou, poder-se-ia invocar uma outra acepção do platónico: a do ideal exangue impotente e um pouco ridículo, que se alimenta de quimeras e, no fundo, contrário à natureza.
O destino desta palavra é todo um símbolo. Porque nestas duas faces que nos apresenta podemos ver claramente que uma é a explicação da outra e não se compreende sem ela.
Tudo o que não existe, ou que não é visível, que reclama de nós a única força criadora presente no homem, que é o seu espírito, está no primeiro díptico.
No segundo, está, precisamente, a natureza, o que é forçoso que aconteça em nós e sem nós, todos os géneros de mecanismo e de fatalidade.
Invertendo uma conhecida fórmula hegeliana, podíamos dizer que a lógica é tudo o que falta à natureza.
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