sexta-feira, 5 de janeiro de 2007

ANTIPATIA DA CARIDADE


A Caridade (Giotto)

"Quando, mais tarde, tive ocasião de encontrar no decurso da minha vida, em conventos por exemplo, incarnações verdadeiramente santas da caridade activa, elas tinham geralmente um ar alegre, positivo, indiferente e brusco de cirurgião apressado, esse rosto onde não se lê nenhuma comiseração, nenhum enternecimento diante do sofrimento humano, nenhum receio de melindrar, e que é a face sem doçura, a face antipática e sublime da verdadeira bondade."

"Du Côté de Chez Swann" (Marcel Proust)


Este célebre comentário à "Caridade" de Giotto, que não exprime os sinais da bondade, porque é bondade no sentido activo e não comunicação dum sentimento, dum desejo de se revelar, é psicologicamente certeiro.

E leva-nos a pensar que este aparente paradoxo se verificará também na maldade ("cão que ladra não morde"?).

Só que se podemos imaginar a bondade esquecendo-se de si mesma e actuando com uma humildade instrumental, também devemos admitir a maldade pura como uma espécie de queda sem pensamento (Alain).

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