A Queda da Bastilha
"Que o terror revolucionário se livre de se comparar à Inquisição. Que nunca se gabe de ter pago ao velho sistema, nos seus dois ou três anos, o que ele nos fez durante seiscentos anos! Como a Inquisição teria o direito de rir! Que são os dezasseis mil guilhotinados duma, diante dos milhões de homens degolados, enforcados, desfeitos, essa piramidal fogueira, essas massas de carnes queimadas, que a outra ergueu até ao céu? Apenas a Inquisição de uma das províncias de Espanha estabeleceu, num monumento autêntico, que, em dezasseis anos, lançou à fogueira vinte mil homens... Mas para quê falar de Espanha e não dos albigenses, dos valdenses dos Alpes, dos beguinos da Flandres, dos protestantes da França, da pavorosa cruzada dos hussitas e de tantos povos, que o papa entregava à espada?"
"História da Revolução Francesa" (Jules Michelet)
Michelet vê na Revolução Francesa o triunfo da Lei e do Direito sobre o império do arbitrário da religião, para a qual a "graça" e a vontade de Deus eram sinónimos duma sacralização do existente e do poder do mais forte.
É claro que esta comparação no uso da violência, tão desigual embora, mas não se compararmos com as revoluções modernas, se explica como um argumento da luta ideológica e política.
A guilhotina, como "máquina de abreviar a dor", é o símbolo duma justiça que se pretende racional, mas que hoje nos parece abominável.
Deus e a Razão (nos seus diversos avatares) foram, na realidade, insaciáveis consumidores de vítimas humanas, não vindo ao caso a mensagem do evangelho ou a filosofia com que se justificaram as mentes esquentadas ou loucas e frias.
É o fundamentalismo moderno que nos vem lembrar, hoje, esse facto.
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