segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

A MANDALA


Mandala

"Noutro sítio, mas do mesmo modo, em Flaubert, são as macieiras normandas em flor que eu leio a partir de Proust. Saboreio o reinado das fórmulas, a inversão das origens, a desenvoltura que faz com que o texto anterior provenha do texto ulterior. Compreendo que a obra de Proust é, pelo menos para mim, a obra de referência, a mathésis geral, a mandala de toda a cosmogonia literária (...)"

"O Prazer do Texto" (Roland Barthes)


Uma obra que recria o tempo como esta pode ainda ser outra coisa além do intertexto e da "recordação circular", em cujas sinapses não só a literatura mas a própria vida são "deslocalizadas", como se diz das empresas que mudam de contexto geográfico.

Gosto de pensar que no momento em que pôde anunciar a Céleste Albaret "cette chôse tellement bien" que era a palavra fim, Proust tinha completado um método mais do que escrito um romance.

Porque, competindo com o trabalho do tempo, ele podia lançar o olhar do criador sobre essa outra vida e salvá-la da existência, desse rio heraclitiano, em cujas águas não podemos mergulhar duas vezes.

Nenhum outro escritor utilizou os segredos do corpo e a memória das palavras para encontrar, com tanto sucesso, intacto, um estado anterior do universo.

Nesse sentido, a memória é já a abolição da seta do tempo e o anterior pode realmente provir do ulterior.

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