Brouillon autographe
"Mas, quando dum passado antigo nada subsiste, depois da morte dos seres, depois da destruição das coisas, apenas, mais frágeis mas mais vivazes, mais imateriais, mais persistentes, mais fiéis, o odor e o sabor permanecem ainda por muito tempo, como almas, a recordar, a esperar, sobre a ruína de tudo o resto, a levar sem enfraquecer, na sua gotícula quase impalpável, o edifício imenso da memória."
"Du Côté de Chez Swann" (Marcel Proust)
À genial descoberta de Proust dum privilégio dos dois sentidos mais "pobres", mais animais, da cultura ocidental, na reconstituição do passado, deveria acrescentar-se o do sentido cinético e o do tacto. No episódio da laje desnivelada que, com o desequilíbrio, lhe traz a evocação da cidade dos doges, estamos em plena epifania do passado.
Não se trata apenas da paixão de compreender como fomos, pesquisando os vestígios intactos da vida que já foi no aluvião do presente.
É verdadeiramente criar outra vida a partir da centelha dum prazer retrospectivo. Como se o critério de autenticidade nessa reconstituição fosse um reconhecimento no ( e do ) corpo, pelos sentidos menos "civilizados".
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