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Desde há muito que a paixão do colectivo voltou aos estádios e desertou sindicatos e partidos.
Mas alguns não sabem recuar sem se tornarem maus. Sem o ideal colectivo que os faz viver acima de si mesmos, caem num cinismo entrincheirado.
A dissidência corre o risco de se pôr ao serviço dum espírito liquidatário, sem céu em nenhum horizonte. É certo que a dissidência pressupõe um pensamento total que julga a opinião ortodoxa do exterior. Esse olhar à distância é visto como o sacrilégio caracterizado.
Por isso, o dissidente já fez um juízo que corta a filiação e considera o outro um ser da fatalidade. Só uma razão separada pode fazer significar como um discurso perverso todas as falas da ortodoxia.
Mas há um momento de falsa dissidência. Num grupo de desiludidos, quando um verdadeiro dissidente diz tudo, acontece que a situação se inverta, e em vez de se falar do partido, fala-se da heresia como tal. Revela-se então que o desiludido não tem razões para dizer mal. Ele sente a separação, mas não pode pensá-la. Na origem do seu caso, está apenas uma paixão mal tratada.
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