terça-feira, 20 de março de 2007

O PLATONISMO DE HITCH



"Todo o filme, sob a luz deste vibrante acto de acusação, adquirirá uma nova coloração: o que estava adormecido reaparecerá e o que vivia morrerá no mesmo instante, e o herói, triunfante da vertigem, mas para nada, não encontrará de novo senão o vazio a seus pés."

Eric Rohmer sobre "Vertigo" de Alfred Hitchcock


No início da sua crítica, Rohmer coloca esta frase de Platão: "Ele próprio, por ele próprio, com ele próprio, homogéneo, eterno." e termina-a dizendo que os filmes de Hitchcock "têm por objectos - para além daqueles com os quais sabem cativar os nossos sentidos - as Ideias, no sentido nobre, platónico, do termo."

Eis uma opinião hiperbólica sobre um cineasta que confessou nunca tirar os olhos da plateia, que está de acordo, porém, com a crítica francesa da época, ou não tivesse ela "descoberto" o mestre.

Mas não há dúvida que, talvez por mérito do argumento (Alec Coppel e Samuel Taylor) e da música (Bernard Herrmann), "Vertigo" é um filme-parábola com uma ressonância metafísica, única na obra de Hitchcock.

"Essa Madeleine julgada verdadeira e contudo nunca verdadeiramente conhecida, verdadeiro fantasma em qualquer caso, uma vez que ela apenas existia no espírito do detective, não sendo senão uma ideia."

Não estou certo também se, por ironia, Hitchcock não terá simplificado a ideia sobre o seu cinema.

A verdade é que quanto mais depurada a forma, mais nos aproximamos do símbolo. A própria eficácia duma técnica narrativa como a do "suspense" pode apresentar-se como uma espécie de rapto do significado, e o mito que dorme em todas as histórias pode então não andar longe.

0 comentários: