"A vocação de S. Mateus" (Caravaggio)
Voltando a Caravaggio. O filme de Derek dá-nos o retrato de um homem que morre revoltado e descrente na religião.
E podia-se ver na sua pintura o triunfo da "carne", nessa nudez teatral, na fisiologia do trabalho e no ricto do esforço que vêm do seu grande homónimo da Sistina e dão lugar a todo um catálogo escultural.
Ao interpretar a história sagrada como um drama popular, protagonizado pelos pajens e prostitutas com que se cruzava nas ruas, descolou para sempre a pintura religiosa do classicismo numa antecipação realista.
Essa mudança equivale ao destronar de todos os deuses, mas, a quase dois séculos das Luzes e da religião da Humanidade, os seus quadros, nesse famoso "chiaroscuro", exprimem a suspensão da fé e o momento em que o corpo já tocado pela morte arde uma última vez.
E o segredo desta arte que tanto diz a crentes e a não-crentes é esse apontar para o vazio que a perfeição formal faz habitar pelo desejo.
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