"Viagem a Itália" (1953-Roberto Rossellini)
"E se o filme acaba - logicamente poder-se-ia dizer - por um milagre, é porque este estava na ordem das coisas, a qual, no fim de contas, releva do milagre. Uma tal filosofia é estranha à arte dos nossos dias: as suas maiores obras, mesmo as mais tingidas de misticismo, parecem inspirar-se numa ideia bem contrária. Apresentam-nos uma concepção do homem demiurgo - senão de facto Deus - bastante enganadora para o nosso orgulho e na qual nos deixámos enganadoramente entorpecer."
Eric Rohmer (sobre "Viagem a Itália" de Roberto Rossellini)
Recordemos esse final inesquecível. Katherine e Alexander parecem amantes exaustos, sem nada para dizer um ao outro, mas recriminando-se a aparente indiferença.
Essa viagem é talvez um derradeiro gesto romântico, em desespero de causa.
Nada parece resolver-se, mas vamos assistindo à conversão de Katherine (Ingrid Bergman) pelo poderoso efeito da paisagem humana, mesmo quando não passa de um tocante vestígio, como essas formas abraçadas descobertas em Pompeia.
O milagre que juntou o casal, ambos providencialmente empurrados pela multidão que acompanhava o andor, pertence à estética do movimento.
Mas Katherine já não era a mesma, tinha uma nova força. E só um deles precisava de mudar para que ambos voltassem a crer no amor.
O que é de uma beleza que nos deixa "senza fiato" é esta aparência coral, com a fé da multidão transportando essa outra chama, como o cimo de uma onda.
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