"Tudo isto foi trabalhado com grande habilidade, com uma notável perícia. Se fosse possível traçar a sua história detalhada e completa, ficaríamos muito edificados sobre um curioso tema de alta filosofia: como, numa época indiferente, incrédula, podem os políticos fazer, ou antes, refazer o fanatismo? Belo capítulo a acrescentar ao livro indicado por um pensador: A Mecânica do Entusiasmo."
"Hstória da Revolução Francesa" (Jules Michelet)
Como é que um clero sem fé (estávamos no século das Luzes: alguma classe ou corporação podia ter ficado imune ao racionalismo triunfante?) conseguiu levantar a Bretanha e a Vendeia contra a Revolução?
"Contra a Revolução não haveria resultado possível sem a guerra religiosa. Por outras palavras: contra a fé, a única força era a fé." (ibidem)
Em certos lugares, a população podia mais facilmente ser enganada sobre o alcance das medidas da Assembleia, escamoteando aquelas que eram realmente populares, como a abolição do dízimo, e "anunciando-lhes que dentro em pouco iam tirar-lhes um terço dos seus móveis e dos seus animais."
"(...) O que perdeu Luís XVI, diz Froment nas suas brochuras, "foi ter tido ministros filósofos."
"(...) O que tornava a contra-revolução impotente era que tinha no seu seio, embora a diferentes níveis, a filosofia do século, isto é, a própria Revolução."
Vê-se, assim, que onde as novas ideias não tinham ainda penetrado, nos campos e onde não se falava o francês, o fanatismo teve muito por onde arder e os interesses, falsamente ameaçados, puderam exprimir-se na guerra religiosa.
Mas no resto do país, lavrado pela charrua dos filósofos, o movimento fez nascer um outro tipo de entusiasmo, que honra a espécie, e que se podia chamar de religião da Humanidade.
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