terça-feira, 20 de março de 2007

A MECÂNICA DO ENTUSIASMO



"Tudo isto foi trabalhado com grande habilidade, com uma notável perícia. Se fosse possível traçar a sua história detalhada e completa, ficaríamos muito edificados sobre um curioso tema de alta filosofia: como, numa época indiferente, incrédula, podem os políticos fazer, ou antes, refazer o fanatismo? Belo capítulo a acrescentar ao livro indicado por um pensador: A Mecânica do Entusiasmo."

"Hstória da Revolução Francesa" (Jules Michelet)


Como é que um clero sem fé (estávamos no século das Luzes: alguma classe ou corporação podia ter ficado imune ao racionalismo triunfante?) conseguiu levantar a Bretanha e a Vendeia contra a Revolução?

"Contra a Revolução não haveria resultado possível sem a guerra religiosa. Por outras palavras: contra a fé, a única força era a fé." (ibidem)

Em certos lugares, a população podia mais facilmente ser enganada sobre o alcance das medidas da Assembleia, escamoteando aquelas que eram realmente populares, como a abolição do dízimo, e "anunciando-lhes que dentro em pouco iam tirar-lhes um terço dos seus móveis e dos seus animais."

"(...) O que perdeu Luís XVI, diz Froment nas suas brochuras, "foi ter tido ministros filósofos."

"(...) O que tornava a contra-revolução impotente era que tinha no seu seio, embora a diferentes níveis, a filosofia do século, isto é, a própria Revolução."

Vê-se, assim, que onde as novas ideias não tinham ainda penetrado, nos campos e onde não se falava o francês, o fanatismo teve muito por onde arder e os interesses, falsamente ameaçados, puderam exprimir-se na guerra religiosa.

Mas no resto do país, lavrado pela charrua dos filósofos, o movimento fez nascer um outro tipo de entusiasmo, que honra a espécie, e que se podia chamar de religião da Humanidade.

0 comentários: