segunda-feira, 19 de março de 2007

ANULAÇÃO E OCULTAÇÃO


"Auto-retrato" (Oskar Kokoschka)

"Porque a arte abstracta tem por característica reduzir o linear até o anular.
(...) A desagregação psíquica recusa a consistência formal e anula o contorno."

"Solitude et Destin" (Emil Cioran)


E estas palavras a propósito da pintura de Kokoschka: "As insuficiências técnicas formais constatadas na obra de Kokoschka não são devidas, como erradamente se afirma, a uma incapacidade artística; elas estão condicionadas por uma visão centrada sobre as origens do mundo, e são dela o resultado." (ibidem)

Não se pode aplicar a toda a pintura moderna a moral do "rei vai nu".

Decerto, não saberemos nunca se o "caos", a ausência da técnica, são um efeito de uma auto-anulação da superioridade formal, uma espécie de voto monástico contra a Babel das linguagens, ou, por exemplo, uma inspiração da desagregação psíquica que faria da expressão um processo de cura.

Os artistas modernos não têm tempo para "sofrer" os períodos de um Picasso, os quais não deixam qualquer dúvida sobre a força que se anula ou transforma em novas plásticas.

Por isso, e porque o "caos" é ele próprio uma linguagem, acredito com Cioran no regresso do "contorno" e do "linear", de resto já à vista nalguns pintores.

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