sexta-feira, 2 de março de 2007

ESCOLÁSTICAS



"As minhas duas teses traduzem-se na afirmação de que, uma vez que a Filosofia está profundamente enraizada em problemas não-filosóficos, o juízo negativo de Wittgenstein estará, em termos gerais, correcto, até ao ponto em que incidir sobre filosofias que tenham esquecido as suas raízes extra-filosóficas; e na afirmação de que essas raízes facilmente são esquecidas pelos filósofos que "estudam" Filosofia, em vez de serem compelidos a mergulhar nela pela pressão de problemas não-filosóficos."

"Conjecturas e Refutações" (Karl Popper)


Como diz Popper, os analistas da linguagem, na esteira de Wittgenstein acabaram por representar a melhor ilustração do uso duma técnica escolástica, longe de qualquer problema real, fosse ele o de desmascarar um pseudo-problema criado pela Filosofia, segundo a concepção do mestre.

Contra a extensão deste princípio de degenerescência a outras disciplinas, além da Filosofia, podia objectar-se, por exemplo, que a Física está ao abrigo desse percalço por, em princípio, estar virada para o mundo, para fora de si mesma.

Mas pergunto-me se os grandes avanços teóricos não se têm verificado resolvendo problemas da ciência consigo mesma. E a matemática seria o melhor exemplo de um progresso independente dos problemas "reais", não-matemáticos.

Em relação às grandes filosofias, só se pode dizer com Wittgenstein: "Aprendi a julgar tão bem quanto qualquer pessoa. É muito engenhoso e cativante, pois a simples verdade acerca deste assunto é a de que há muito espalhafato para nada - tudo uma série de disparates.", se não as soubermos ver como parte de um todo, de um paradigma (no sentido de Foucault) para sempre perdido, o que as aparentaria, mais do que a qualquer outra coisa, aos antigos mitos.

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