domingo, 25 de março de 2007

A ARTE DO IRRACIONAL


Rembrandt ("A meditação do filósofo")


"Este sentimento da imanência da morte recebeu a sua expressão mais forte em Rembrandt. A visão da actualidade da morte ao lado da vida, que encontramos num Hans Holbein, Mathias Grünewald, Lucas Cranach, Hans Baldung, etc, visão própria da arte do Norte, contém um vigoroso sentimento da presença da morte, que, longe de ser exterior à vida, lhe confere certas características e determina o seu curso. A vida perde completamente o encanto duma expansão irracional, porque a morte é um obstáculo inultrapassável e omnipresente."

"Solitude et Destin" (Emil Cioran)


Por oposição à arte do Norte, Cioran define a arte da Antiguidade e a do Renascimento meridional como ingénua e sonhadora, um "abandono voluptuoso à existência sem ser atormentada pela questão teológica."

"A Virgem Santa já não é uma mãe chorando o seu filho, mas torna-se uma beleza mundana, de misterioso sorriso, quase erótico."

É o "encanto pernicioso" que levou a heroína de Forster a apaixonar-se pela beleza de Itália, com que extraditamos da existência o seu lado trágico, tão marcado, por exemplo, nos retábulos de Isenheim (Grünewald), para na perfeição de um Rafael alcançarmos a vida das ideias.

Não é o nosso mundo, mas pura transcendência e estetização da morte.

Tão natural, de resto, como o céu azul dessas paragens.

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