"A 22 de Outubro, a Assembleia declarou que ninguém seria eleitor se não pagasse em imposição directa, como proprietário ou locatário, o valor de três dias de trabalho (ou seja, no máximo, três francos).
Com esta linha, tirou das mãos da aristocracia um milhão de eleitores dos campos."
"História da Revolução Francesa" (Jules Michelet)
Robespierre e outros "objectaram inutilmente que os homens eram iguais, e portanto todos deveriam votar, nos termos do direito natural.
(...) Na crise em que se estava, nada mais vão, mais funesto que esta tese do direito natural. Os utopistas, em nome da igualdade, davam um milhão de eleitores aos inimigos da igualdade." (ibidem)
Não sei se os então utopistas poderiam hoje ser chamados de democratas.
Eles lutavam por um princípio que, na época, era revolucionário, mas que podia ser prejudicado pela lógica da Revolução.
Para Michelet, intuitivo e pragmático, não havia dúvida que o princípio devia ser protegido de si mesmo e que a Revolução traria na ponta dos chuços a almejada igualdade.
Este tacticismo provou ser a melhor demonstração da fórmula saliniana: é preciso que tudo mude, para tudo ficar na mesma,
Mas não podemos ignorar que se ainda hoje a igualdade é uma utopia, já não o é como em 1789.
E talvez devêssemos distinguir as utopias, conforme elas se situam no futuro e inspiram a acção dos homens, ou no passado e, presas das contradições resultantes de experiências históricas negativas, são incapazes de dar asas às palavras e às ideias.
0 comentários:
Enviar um comentário