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"De repente eu adormecia, caía nesse sono pesado em que se nos desvelam o retorno da juventude, os anos passados, os sentimentos perdidos, a desencarnação, a transmigração das almas, a evocação dos mortos, as ilusões da loucura, a regressão para os reinos mais elementares da natureza (porque se diz que vemos muitas vezes animais em sonhos, mas esquece-se que então quase sempre somos nós mesmos um animal, privado dessa razão que projecta sobre as coisas uma claridade de certeza; (...) todos esses mistérios que cremos desconhecer mas nos quais, na realidade, somos iniciados quase todas as noites, tal como no outro grande mistério do aniquilamento e da ressurreição."
"À l'ombre des jeunes filles en fleurs" (Marcel Proust)
O grande mistério é, de facto, que o que já se chamou de antecâmara da morte e se tornou, a partir de Freud uma espécie de turno da noite do cérebro em autogestão, cujo registo aberto à interpretação seria a chave do nosso ser consciente, que a única problemática do sono, enfim, seja a da higiene.
O texto de Proust abre o nosso espírito para as verdadeiras dimensões dessa "maneira de ser" que faz com que não possamos responder por um terço da nossa existência.
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