Simon Blackburn
"Blackburn gosta de contar esta história. Imaginemos por exemplo os representantes das grandes religiões reunidos numa mesa redonda televisiva. O budista elogia as vias da sabedoria e da grande calma, e todos os outros participantes dizem em coro: "Maravilhoso, se as coisas funcionam assim para vocês, é fantástico." O hinduísta fala então dos ciclos de vida e dos ensinamentos de Krishna. Os outros dizem em coro: "Maravilhoso, se as coisas funcionam assim para vocês, é fantástico." E assim de seguida, até que católico fala da mensagem de Jesus, da salvação e da vida eterna. "Maravilhoso, se as coisas funcionam assim para vocês, é fantástico." declaram os outros. Mas o católico enerva-se, dá murros na mesa e grita: "a questão não é que funcione para nós! É a palavra do Deus vivo, e se vocês não acreditam nisso sereis todos condenados!" E os outros exclamam em coro:"Maravilhoso, se as coisas funcionam assim para vocês, é fantástico." (...)
"Simon Blackburn o quase-realista" (Pascal Engel)
A tese de Blackburne é que não adianta dar murros na mesa perante a resposta dos relativistas. É preciso "renunciar a considerar, num caso deste género, a verdade como uma propriedade suplementar dos nossos discursos".
Aquilo que dizemos é apenas um elemento, a par de muitos outros, que o homem capaz de pensar tem de considerar, a fim de decidir por si a parte de verdade que contém.
5 comentários:
Então, aqui o ridículo está onde? Sinceramente, não percebo como isto pode ser uma resposta ao relativista, isto é o que o relativista faz.
Mas o facto de crer que se pode
chegar mais perto de qualquer coisa como a verdade, não significa que nem tudo se equivale?
A resposta errada está em supor que podemos evitar aos outros a descoberta da verdade pelos seus próprios meios, e que as nossas palavras são prova de mais alguma coisa do que as nossas convicções ou os nossos sentimentos.
Significa, talvez, que cada um de nós, eventualmente o género, diferencia. Claro que nem tudo se equivale, nem em culinária nem em convicções. Mas diferenciar não é ajuizar de verdade. Escolher não é primeiramente ajuizar de verdade. Na maior parte das vezes, não é o que acontece. Empiria, tradições, convicções e sentimentos são explicações suficientes e conversáveis, ao contrário de verdades.
Depois, o tudo vale, se não estou enganado, é uma questão metodológica e processual, não ele próprio um juízo de verdade.
Nem a ciência pode pretender ser a verdade...
Mas se é certo que todos somos diferentes, não ponho ao mesmo nível a resposta dos relativistas da história e a reacção do católico. Para este, a verdade existe, mas confunde a expressão com a evidência.
Talvez se tenha de falar em intensidades a propósito das convicções, o que aproxima perigosamente a verdade do subjectivamente único.
Sem o querer aborrecer.
A ciência não goza de qualquer estatuto de excepção, mercê da sua inclemência para com o real antes obriga a seriedade do empenho crítico (e neste aspecto, a simples história da ciência seria elucidativa de tal necessidade).
Agora, se a resposta do relativista é tão só a suspensão do juízo em termos de suplementos do discurso - ou seja, uma desconfiança em relação à teoria (do tudo, a inevitabilidade) e não ao conhecimento sensível, não se vê como isto possa ser assim tão problemático filosoficamente.
Não estaremos todos, por formação, a reivindicar um monoteísmo de razão sem outra justificação para além da tradição (uma entre outras)? É só uma das perguntas que me ponho.
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