quinta-feira, 27 de março de 2008

RICOCHETES



"NO - No fundo, e para você, o que é que pensar quer dizer?

S. Kakar - É pela paixão que se reconhece o pensamento. Pensar não é somente uma actividade do cérebro, mas também do estômago e do coração. Um pensamento original é uma conversação entre os três."


(Entrevista de Sudhir Kakar ao "Nouvel Observateur")


Pensamentos biliosos, pensamentos de estômago, ideias do coração. Tudo metáforas que exprimem, desde Platão, a unidade viva do que somos.

Será que o mais "puro" dos intelectuais pode pensar só com o cérebro?

É esta raiz corporal do pensamento que o designa como característico de uma pessoa.

Mas nem por sombras isso dá conta da objectividade das ideias e até da opinião.

Podemos ser tão superficiais, envolvendo-nos tão pouco naquilo que dizemos que a opinião, a moda no dizer, apenas fazem ricochete em nós. Não lhes acrescentamos nada, e por isso não se pode chamar a isso pensamento.

Às vezes somos esse ponto de ricochete e outras somos papagaios repetindo sem pensar o que ouvimos ou lemos.

É por isso que pensar verdadeiramente é algo de dinâmico como a conversa que se trava dentro de nós entre as três figuras de que fala Kakar.

Mas há um mundo das ideias, do espírito objectivo que, por exemplo, pode ser representado pela Ciência.

E talvez a Ciência não tivesse chegado onde chegou, se fosse realmente pensada, em vez de simplesmente desenvolvida numa lógica separada e unilateral.

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