terça-feira, 25 de março de 2008

PRETA DE NEVE


Andy Warhol (1928/1987)


"Basta vermos certos filmes "experimentais" para disso nos convencermos: sem dúvida, sai-se do circuito comercial e da narração-representação, mas para cair na descontinuidade pela descontinuidade, no extremismo dos planos-sequência em que tudo fica imóvel, na experimentação não como pesquisa mas como procedimento. J.-M.Straub filma a perder de vista a mesma estrada monótona, A. Warhol filmara já um homem a dormir durante seis horas e meia e o Empire State Building durante oito horas, sendo a duração do filme a do tempo real."

"A Era do Vazio" (Gilles Lipovetsky)


Isto para dizer que a vanguarda morreu, ou mudou de lugar, que a revolução permanente já não se encontra na arte, mas na cultura de massa, em que "há mais experimentação, surpresa, audácia no walkman, nos jogos de vídeo, no surf, nos filmes comerciais para o grande público do que em todos os filmes de vanguarda."

A "Branca de Neve" de César Monteiro foi, entre nós, a confissão desse esgotamento.

A situação é a de um derrube de hierarquias em que tudo pode ser citado e reapropriado, como se a novidade tivesse perdido para sempre a sua inocência.

Einstein definia o génio como o talento de esconder as próprias fontes. A arte pós-moderna, pelo contrário, parece apostada em não esconder nada, numa auto-desmistificação em que o fundo e a superfície alternam como num anúncio de néon.

E é como se o inconsciente não tivesse mais álibis.

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