"Muitas vezes se glosou a afirmação de Heidegger segundo a qual "a ciência não pensa", tão ocupada que está em contar, medir ou manipular. Bem ingénuo seria o filósofo que se julgasse por isso engrandecido, ele que não sabe contar nem medir, e que tão desajeitado é! (...) Não, explica Heidegger, a ciência tem "qualquer coisa a ver com o pensamento" e este faria mal em ignorá-la, como perderia em desprezar a poesia."
"Le Penseur, L'Écrivain et le Philosophe" par Jean-Michel Besnier
Sem a poesia, que se abre ao domínio do corpo e do pré-conceptual, a filosofia corre o risco de se cingir à lógica. E a lógica é independente do mundo. É como se batêssemos no sino e nos ouvíssemos a nós mesmos dentro dele.
A ciência faz entrar o mundo e obriga aos desenvolvimentos lógicos, mantendo a filosofia afastada da literatura.
Mas há talvez um momento crítico em que o sistema da Ciência absorve o mundo e se torna independente dele.
Daí a actualidade cada vez maior da metafísica, que é uma tentativa de superar a lógica.
"Certamente que o pensamento é frágil, e Heidegger enumera as quatro razões seguintes:
"1º Não conduz a um saber como o das ciências;
2º Não traz uma sabedoria útil à condução da vida;
3º Não resolve nenhum enigma do mundo;
4º Não granjeia imediatamente forças para a acção." (ibidem)
Assim, para Heidegger, a filosofia caracteriza-se por um saber sem valor prático, nem heurístico. Significativamente, admite que possa inspirar a acção. Mas trata-se de um princípio de acção que nada deve à utilidade, nem à sabedoria. E aqui se reconhece a sua dívida para com Nietzsche.
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