"Queremos nós realmente conhecer-nos? Porque não se trata apenas de poder saber, mas de querer saber; e quando o desejo de saber se confunde e abandona à recusa de saber, ele toma a forma do cepticismo. Cavell é decerto o único a pôr em evidência esta natureza do cepticismo, e também a sua actualidade. O seu objectivo não é refutar ou reforçar o cepticismo, mas reinventá-lo, reconhecer a sua presença na intimidade da nossa vida ordinária - na perda da palavra, no afastamento do mundo e na ignorância de si próprio que nos espreitam, ou na política, nesse momento em que o discurso político perde o seu sentido (...)."
"Stanley Cavell, le Philosophe du Quotidien" par Sandra Langier
Por detrás do cepticismo que é uma atitude filosófica perante a complexidade do mundo, pode estar um cepticismo do "vivido" que já não tem como objecto o conhecimento, mas o reconhecimento de nós próprios e dos outros.
"É uma ideia que se encontra também em Wittgenstein: mesmo se todos os problemas do conhecimento forem resolvidos, os problemas da vida "nem sequer foram aflorados"".
Porque é preciso aceitar a nossa condição como uma realidade que nos impõe escolhas éticas, apesar do cepticismo filosófico, e correr riscos quando não estamos seguros das consequências
Cavell vê no cinema a inversão do cepticismo, "como impossibilidade da conversação", quando a tragédia se converte em comédia e a separação no reencontro. "A reconciliação é a aceitação do estado de separação e de diferença, pela instauração duma problemática nova, a da igualdade".
O contrário deste realismo optimista é-nos dado pelo cinema de Antonioni. Aqui os protagonistas encontram-se encalhados na sua solidão e a conversação não chega a existir. É morta à nascença por que o Outro é um problema teórico mal resolvido.
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