Raymond Queneau (1903/1976)
"Não tenho qualquer respeito, nem consideração especial pelo popular, o devir, a "vida", etc. Mas precisamente como não vejo nada de realmente sagrado no nosso francês contemporâneo, não vejo já qualquer razão para não elevar a linguagem popular à dignidade da linguagem escrita, e fonte duma nova literatura, duma nova poesia. E a reforma da ortografia, ou antes a adopção duma ortografia fonética, impõe-se, porque ela tornará manifesto o essencial: a preeminência do oral sobre o escrito. Trata-se, pois, não de reforma, mas de criação."
"Bâtons, Chiffres et Lettres" (Raymond Queneau)
Vem a calhar, face ao acordo ortográfico que tantos escudos tem levantado por parte dos que melhor conhecem a língua escrita, figuras proeminentes da nossa cultura, enfim, mas que foi soberanamente ignorado pela massa. Talvez por que esta não espere escrever muito, nem ler por aí além.
A língua de todos os dias vai continuar a ser falada e a renovar-se, sem querer saber de brasileirismos impostos, porém, aceitando de bom grado os que as telenovelas da Globo popularizam.
Se existe, ou devia existir, a preeminência do oral sobre o escrito de que fala Queneau, então qualquer tentativa de uniformizar as práticas e o uso da língua parte dum grande equívoco.
E este acordo, longe de submeter uma idiossincrasia a outra, rapidamente fará parte dos fósseis das criaturas inviáveis.
0 comentários:
Enviar um comentário