"(...) O Estado é uma máquina feita para oprimir uma classe por outra, para manter submetidas a uma classe outras classes subjugadas. A forma desta máquina pode ser diferente. No Estado esclavagista, temos a monarquia, a república aristocrática ou mesmo a república democrática. Na realidade, as formas do governo eram extremamente variadas, mas o fundo das coisas permanecia o mesmo."
"O Estado e a Revolução" (Lenine)
O que é que a certa altura na história das ideias simplificou assim a Natureza, que para Hegel era ainda tudo o que se opunha ao pensamento, a ponto de Lenine poder aplicar à sociedade política a metáfora mecânica?
A História, como interpretação do passado, nunca pôde dispensar uma teoria da leitura, mas, no caso de se suporem leis para o seu desenvolvimento, a interpretação aproxima-se muito da dedução lógica.
É o historicismo que fornece a ideia da máquina e da sua finalidade. "Feita para oprimir", diz Oulianov. Como a ideia da máquina não deixa lugar para qualquer outra função do Estado, suprimidas as classes, abre-se o caminho salvífico.
A Natureza não é já o objecto de conquista do capitalismo primitivo. Ela torna-se o livro da História. Nas suas páginas conta-se a versão laica da Salvação.
Apetece citar Cioran: "Quando trazemos em nós germes de decepções e como que uma sede de as ver eclodir, o desejo que o mundo infirme a cada passo as nossas esperanças multiplica as verificações voluptuosas do mal." ("Précis de Décomposition")
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