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"O sistema de avaliação que a ministra pretende impor e que os sindicatos recusam é apenas um dos temas de contestação. Mas é o que tem surgido com mais evidência. A coberto de uma virtude indiscutível, a ideia de avaliação não é recusada por ninguém. É de bom-tom dizer que se é "a favor da avaliação, mas contra esta avaliação". Para todos, ou quase, é uma espécie de santo-e-senha de honorabilidade. Acontece que não é. A palavra, o conceito, o mito e o tique nasceram há vinte ou trinta anos. Em Portugal e na Europa. Criado por burocratas e tecnocratas, os defensores da avaliação acreditam que um sistema destes promove a boa educação, melhora o ensino, castiga os maus profissionais, detecta os talentos, permite corrigir erros e combate o desperdício. Na verdade, o sistema e a sua ideologia, que infestaram o Ministério da Educação, são próprios de uma educação centralizada, integrada e uniforme. Na impossibilidade humana de "gerir" milhares de escolas e centenas de milhares de professores, os esclarecidos especialistas construíram uma teoria "científica" e um método "objectivo" com a finalidade de medir desempenhos e apurar a qualidade dos profissionais."
António Barreto (in "O Público" de 9/3/2008)
Quem tem alguma experiência dos processos de avaliação de desempenho nas empresas, que surgiram, de facto, há menos de 30 anos, em Portugal, sabe que a actual unanimidade começou pela rejeição do bom-senso e por uma saudável desconfiança.
Mas as modas são mesmo assim. Não há nada que não se torne "natural" à força de insistência e de repetição. Hoje ninguém contesta o método (tal é o poder da opinião sedimentada), mas quase ninguém acredita nele.
E a razão é que, simplesmente, não se podem converter todos os actos funcionais relevantes em quantidades mensuráveis e a classificação é, assim, sujeito de controvérsia. Além disso, as "notas" tendem a reproduzir-se de ano em ano, porque se torna mais problemático ainda alterar um primeiro valor do que estabelecê-lo apesar de todas as dúvidas.
As pessoas sendo o que são, para evitar desnecessários conflitos e ter de argumentar com factos tão evidentemente discutíveis, mantêm a ficção duma avaliação contínua que mais não é do que a gestão dum primeiro acto de avaliação, cujo carácter polémico foi mais ou menos diluído no seu contexto autoritário.
Dito isto, os professores podem ser avaliados, não pelo método utilizado nas empresas, mas pelos resultados dos seus alunos em exames independentes. Isto é, o professor não pode "julgar em causa própria", quando a sua carreira passou a depender daqueles resultados. Doutra maneira, temos o facilitismo imperante.
3 comentários:
Caro José Ames:
Acho bom que se questionem os conceitos de "senso comum", para não ficarmos presos a conceitos desajustados. Não penso que seja o caso da avaliação: o facto de o conceito ou o termo terem entrado na moda não implica, só por isso, que a coisa em si seja má, ou que a "moda" seja prejudicial.
Entretanto, permito-me notar apenas um ponto do seu post. Escreve: «(...) o professor não pode "julgar em causa própria", quando a sua carreira passou a depender [dos] resultados [dos seus alunos]».
Desculpará a observação, mas: (1) o peso dos resultados dos alunos é uma parcela, de modo nenhum maioritária, entre outras; (2) não se percebe como o resultado da actividade profissional possa não contar para avaliar essa mesma actividade profissional; (3) os diferentes items de avaliação não podem ser julgados separadamente, mas como um sistema: um professor que orientasse a sua prática docente pela batota na avaliação dos seus alunos, artificialmente e para se auto-beneficiar, certamente acabaria por ser prejudicado em outros critérios, porque estaria a distorcer globalmente a sua prática.
Espero que esteja sabedor de que existe avaliação em muitas outras profissões e de que essa mesma avaliação, não sendo a solução milagrosa para nada, também não é só vacuidade como alguns pretendem e dá, em inúmeros casos, excelentes resultados. Estou certo de que os professores, se quiserem, saberão dar bom uso a essa ferramenta.
E mais: estou certo de que, mais cedo ou mais tarde, eles próprios demonstrarão como isso se faz. Por uma razão muito simples: porque se estão, eles como muitos outros, preocupados com o actual estado do país, porque não está ainda garantido que tudo isto vai valer a pena, e porque se defendem de eventuais perdas e danos, a maioria deles serão os primeiros a arregaçar as mangas e a mostrar que até dos erros que se misturam em todas as coisas humanas se podem fazer coisas boas.
Saudações.
Amigo Porfírio,
Obrigado pelo seu comentário.
Não sou dos que pensam que os professores têm uma vida fácil.
E sou a favor duma avaliação o mais objectiva possível. A minha
opinião negativa tem só a ver com o que o passa por objectividade
nas empresas.
No caso dos professores, o resultado do seu trabalho tem de contar, evidentemente. Mas penso que o que os alunos realmente aprenderam não pode ser aferido apenas pelo seu professor.
O regresso aos exames estou certo de que se imporá a todos, mais
dia menos dia.
Pode ser também que o chamado facilitismo seja apenas consequência dum real desespero.
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